THE GAMES - BUSCA E ENIGMA

E lá estava eu me comprometendo a participar de um dos jogos em nome de Apolo. Eu trajava a blusa laranja do Acampamento Meio-Sangue, uma calça jeans e havia prendido meu cabelo em um coque não muito apertado. Preso no cinto da calça, estava o meu chicote, afinal nunca se sabe quando ele pode ser útil para você. Não sabia quem iria competir contra mim, pois não senti a tentação de verificar isso na hora e fui direto para o Anfiteatro.
Muitos campistas já estavam lá. A única coisa que tive tempo de ver foi o povo gritando para mim quando entrei e Jeremiah com um cartaz com meu nome, depois disso fiquei absurdamente vermelha e desviei o olhar. Não era o problema da relação com outras pessoas e tão pouco Jeremiah ali me vendo, quer dizer, havia sim o problema dele me vendo: e se eu falhasse naquela prova? Sacudi a cabeça para afastar o pensamento, iria participar daquela prova por ele. Voltando ao ponto, o meu problema era que as atenções estavam voltadas para mim e os outros dois que agora eu identificara quem eram. Tomando coragem, eu abri um sorriso e acenei para o pessoal.
─ Olá, campistas! ─ Gritei em cumprimento. Apesar de muitos não estarem realmente torcendo para mim, era legal cumprimentar eles mesmo assim. Depois do cumprimento, me voltei a Quíron e ouvi o que ele dizia com atenção e fiz notas mentais. Eu tinha doze horas para resolver meus enigmas e achar o item que Apolo havia escolhido para mim. Fiz um calculo mental: se eu tinha doze horas e tinha que resolver um monte de problemas propostos pelos deuses. Era nisso que eu pensava quando ouvi a musica em minha mente.
Pássaros, lugares altos, sol, voar, ver tudo, subida árdua... Onde eu poderia encontrar tudo isso em um único lugar? Naquele momento, apenas pensava na Colina Meio-Sangue, então foi para lá que rumei. De fato, eu sempre ia ver o por do sol lá com Jeremiah e sabia que a visão do Acampamento era boa e a subida podia ser um tanto difícil as vezes, o que me proporcionaria já duas das características. Também era possível ouvir a cantaria de pássaros lá dependendo da hora do dia.
Minhas vestes moviam-se conforme o vento enquanto eu corria de maneira elegante para meu objetivo. Eu sentia que, talvez, os meus treinos de reflexos e agilidade não tenham sido inúteis, apesar de poucos. De todo modo, caso as coisas começassem a ficar ruins, eu já saberia como "aumentar" a minha velocidade para ganhar certa vantagem. Não iria atrapalhar os outros, mas poderia me auxiliar, pelo que me constava.

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Assim que completei minha fadigante corrida, me deparei com a divindade solar me olhando. Não sei explicar como é ter uma divindade tão próxima assim - o senhor D não conta -, ainda mais uma tão bela. Ao ouvir aquelas palavras, fiquei um tempo encarando ele. Sabia que ele esperava uma resposta e me senti forçada a responder alguma coisa. Em minha mente, algo se agitava e procurava uma resposta. Não poderia dar-me ao luxo de dar uma resposta errada, não logo no começo. E então uma luz se acendeu em minha mente, sem trocadilhos.
─ Filhas do trovão e fragmentos da memoria? São as nove Musas.
Minha voz soou extremamente calma quando respondi, eu estava convicta de minha resposta. Não havia a menor possibilidade de eu estar errada, não para mim pelo menos. Eu senti a onda de raiva disparar de minhas estranhas para o resto do meu corpo. A simples menção subentendida de Zeus poderia irritar qualquer filho de Érebos sem o menor esforço, porém não era hora disso. Contentando-me a respirar fundo e voltar a fitar Apolo, me concentrando apenas em meu objetivo principal: ganhar aquela competição e me distrair. Eu era a única pessoa do chalé de Érebos participando das competições, o que me dava uma motivação extra: mostrar que apenas um de nós é o suficiente para demonstrar que somos tão bons quanto qualquer outro campista. Ou até melhores, quem sabe, não é mesmo?
Pensando bem, para alguma coisa os livros sobre mitologia que minha mãe lia ocasionalmente para mim serviram de algo. Eu sabia que Apolo era uma especie de líder das musas e que elas eram filhas de Zeus com Mnemosine, deusa que personifica memoria e uma Titânides.

Eu não sou um gênio, tampouco me acho inteligente - na verdade, eu não sou nem um pouco inteligente, posso até não ser de tudo burra ou lerda, mas existem pessoas infinitamente mais inteligentes que eu e nem são filhas de Atena. Quando o próximo passo da busca me foi dito, eu guardei a chave em meu bolso e comecei a correr colina a baixo pensando em soluções para aquela etapa. Dois seis corvos que saíram voando, acho que dois estavam nas Alas das Enfermarias (Medicina), dois próximos ao Anfiteatro (Cultura) e os outros dois... Bem, estes eu não conseguia relacionar a nenhum lugar. Qual lugar poderia me representar o oculto, o sombrio, o secreto?
Em minha mente, eu procurava pelo Acampamento inteiro um lugar que pudesse ter as características necessárias para representar o terceiro aspecto. Considerei, talvez, a Floresta. Iria passar lá depois dos outros dois lugares, caso eu não tivesse uma ideia melhor. Talvez tenha sido uma boa ideia ter levado o chicote, afinal.
Neste momento, meus pés me guiavam para a Ala das Enfermarias, para verificar se haviam corvos por lá. Mesmo que eu perdesse tempo seguindo minha intuição e isso me deixasse um passo mais longe de ganhar isto, sempre diziam que, na duvida, seguir sua intuição é o melhor a se fazer. E ela nunca havia me deixado na mão até então.

Primeiro os corvos me irritavam e depois eles me faziam sentir todas aquelas sensações desagradáveis... Eu sabia que Jeremiah jamais iria me machucar voluntariamente e tinha plena consciência de que se me ferisse não seria de proposito. Era isso que me impulsionava a esperar que aquilo terminasse: a certeza de que eu e Jeremiah estávamos indo bem, obrigada.
Foi esse pensamento que me fez, enquanto pegava as chaves no chão para guardar e procurava em minha mente o próximo lugar em que deveria ir, que percebi que os corvos haviam me dado uma pista. O amor me lembrava meu amado humano e ele estava no anfiteatro agora, onde eu acreditava estar os outros dois. Sem que eu precisasse me preocupar em dar algum comando ao meu corpo, ele já corria rumo ao Anfiteatro com o receio de que algo pudesse ocorrer com ele caso eu demorasse demais ou falhasse na prova.
Junto ao receio, brotou também em meu peito a vontade de mostrar aos meus irmãos que, mesmo sendo muitas vezes referida como escoria do chalé de Érebos ou algo assim por eles, eu poderia trazer a honra ao chalé. Na verdade, só de estar ali participando quando todos os outros estavam confortáveis fazendo outras coisas já era algo que fornecia honra ao chalé de meu pai. A disposição de aceitar um desafio e me dedicar a resolve-lo, mesmo que isso não esteja custando a minha vida era algo a ser considerado.

Para onde, diabos, eu deveria seguir agora? Minha mente girava, porém eu não tinha tempo para ficar ali. Queria também entrar correndo ali, abraçar Jeremiah e voltar a fazer a prova, mas eu não tinha tempo para aquelas banalidades. O primeiro lugar que o poema me lembrou foi a cozinha, porém não via sentido em ir para cozinha. Por questão de eliminação, primeiramente procuraria próximo ao Refeitório e suas redondezas. Poderiam ser em outros lugares também, mas, na duvida, se verifica todos os que você puder e reza aos deuses para que um deles seja o certo. ── Que os deuses estejam comigo. ── Sussurrou enquanto o suor escorria de sua testa.