LABIRINTO DE PERGUNTAS II

Oliver era o mais profundo silêncio, o que me deixa um tanto quanto irritada. Ele nem sequer disse algo sobre o que eu havia falado há exatamente vinte minutos. Aquela porta imensa me deixa intrigada. Observando as estrelas me lembrei de quando pequena e meu pai certa noite começou a me contar histórias sobre as constelações e cada casa do zodíaco. Eu sabia que a casa de Touro tinha algo especial nela, só precisava lembrar o que era. Aquela estrela diferente representava alguma coisa. Respirei fundo e me concentrei naquele momento. Como um sopro uma voz feminina e doce invadia meus ouvidos. Uma voz que nunca ouvida antes. ”A constelação de Taurus é formada por estrelas, e as mais brilhantes são: Aldebaran, Alnath e Hyadum I. Apenas uma é a mais brilhante.”.

A voz desapareceu e meus olhos abriram rapidamente. Olhei para os lados e não havia ninguém além do garoto. Olhei para a porta com as estrelas e sorri. Aproximei-me do teclado número, que possui letras também. Lembrei de uma vez que utilizei números para conversar com minha primeira namorada. Agora tudo fazia sentido e não aquilo que estava pensando minutos atrás. A senha era um nome e talvez fosse à estrela mais brilhante. - Aldebaran!- Exclamei por impulso. Olhei para Oliver e sorri. Precisava digitar como se fosse enviar uma mensagem de texto. Meus dedos tocavam os números e senti uma energia grande. Meu corpo arrepiou por inteiro. Comecei a digitar, já que o número um era ABC e a assim dava a sequência do alfabeto nos números, o primeiro número a ser digitado foi 1.

Digitei a seguinte senha: 142-211-615.

Boom! A porta se abria e uma claridade indescritível tomava conta de nossos olhos, não sabia se aquele era meu fim ou se havia conseguido. Com receio abri meus olhos e logo observei que a porta estava aberta. Olhei sorrindo para Oliver e toquei o ombro dele. -Consegui!- A mesma mão levantei para o alto, como se estivesse levantando um troféu. Estava muito feliz com tudo que já tinha conseguido até ali, cada desafio mostrava que eu estava mais pronta do que nunca. Agradeci minha Lady Ártemis pela benção e Deméter por ter me colocado no mundo e me tornar uma pessoa especial. Uma semideusa.  Avancei sem medo algum, até observar que aquele lugar era muito obscuro, e francamente as trevas não era meu forte. Conforme caminhava pelo lugar luzes acendiam, como aqueles lugares secretos de filme. Ao centro uma luz vermelha, o que era aquilo eu não sabia ao certo, até me aproximar cada vez mais. As paredes eram forradas por peças de computador e muitos cabos. Até parecia que o local foi decorado por um nerd da computação. Correntes grossas, como as que seguravam a âncora de uma grande embarcação, sustentavam onde pisávamos. Oliver estava logo atrás, parecia ter um pouco de medo, mas eu sabia que no fundo ele iria se dar bem.

A medida que caminhamos a luz que estava ao centro ficava mais intensa, ou seja, estávamos cada vez mais perto daquilo. Luzes pequenas, como de natal, iluminavam quatro degraus que davam ao gigante metálico. Era um monstro muito diferente de tudo que já tinha visto todos esses anos como campista. O robô gigante tinha dois chifres no topo da cabeça, isso me causava arrepios intensos. Quando percebi Oliver estava em meus braços desmaiado.  Observei por alguns segundos aquela coisa que estava a minha frente, quando a porta fechou e soo uma voz robótica, como aquelas vozes de site de pesquisa, anunciando que uma ameaça estava detectada. Óbvio que essa ameaça era nós. Suspirei e tentei manter a calma, era difícil de pensar com um garoto em seus braços e muito menos quando dei conta que as correntes que sustentava o caminho que estava começaram a ceder. Dos quatros degraus, um eu usei para deixar o campista, até porque eu não era nenhuma deusa para lutar e segura-lo ao mesmo tempo. Que Éris cuide dele, porque eu realmente não era obrigada. Engoli seco e olhei para aquela coisa medonha. Minha mão direita captura meu chicote e o estalava no degrau próximo a criatura. Meus olhos demonstravam medo e fúria. Se eu não impedisse aquilo, seria mais dois campistas mortos e lembrados apenas pela derrota. O chão parecia tremer. Era como se realmente tudo fosse virar pó.

Notei que cabos usb sustentavam o robozão, logo se eu conseguisse eliminá-los, ou retirá-los, conseguiria desativar aquilo e não seria mais uma ameaça. Olhei para aquilo e lembrei-me de uma música. - We gonna let it burn!- Falei e com um movimento leve e delicado, tentei alcançar um cabo com meu chicote e se conseguisse iria puxá-lo.

Foi uma tentativa sem sucesso, mas já tinha algo em mente. Precisava ser rápida e acabar logo com isso. Os fios estavam soltos e soltando faíscas, logo não eram os cabos que sustentavam o grande robô. Aquela luz vermelha no centro de sua cabeça era o que intrigava, mas os chifres também me faziam pensar em possibilidades. Após a tentativa, recolhi meu chicote e um soco foi dado no chão. Meus joelhos dobraram, mas não caí. Olhei para Oliver e o corpo dele apenas pulou do chão. Suspirei aliviada por não ter acontecido nada com ele. Assim que a criatura começou a andar pude observar no chão um envelope branco. O que era aquilo? Talvez fosse uma armadilha, mas já como dizem “Quem está na chuva é para se molhar”, pensei em algo arriscado.

Eliminar, eliminar, eliminar. Era tudo que vinha em minha cabeça. Veremos quem será eliminado então. Com um movimento rápido lancei meu chicote que enrolou na perna da máquina. Observei que o chão era liso, seria fácil deslizar ali. Pulei o último degrau e quando estava caindo no chão puxei fortemente meu chicote, fazendo com que meu corpo fosse jogado para frente, ficando atrás da criatura. Se tudo desse certo eu conseguiria pegar o envelope e descobrir o que era.

Dor. Uma dor insuportável tomava conta de meu braço. -AAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH- Foi o grito estridente que saiu de minha garganta. Uma mistura de dor com raiva. Meus olhos jorravam lágrimas e o resto do meu braço sangue. Muitas coisas passaram em minha cabeça. Por um momento pensei em enfiar meu corpo embaixo daquele grande pé e por um fim a todo esse sofrimento, mas eu tenho que honrar Ártemis e minha mãe, Deméter. Uma mão não era motivo para isso e eu sabia que coisas piores estavam por vir. Abri o envelope e li com atenção ou pelo menos tentei. A dor era demais, meu braço tremia e formigava um pouco. Olhei para meu braço direito e fechei meus olhos rapidamente. Era o que restava e precisava usa-lo com cautela e precisão. Suspirei e observei a máquina horrenda em minha frente. “Desgraçado”. Foi o que consegui pensar no momento. Estava com muita raiva. Conseguia sentir minha pele esquentar.

Com a única mão que me restava guardei o envelope no bolso. O lugar estava cheio de sangue, não sei se o Senhor H. iria ficar feliz com a nova decoração, mas eu ainda iria continuar pintando aquele lugar com meu sangue. Vermelho vivo e intenso.  Tentei espiar Oliver, mas ele ainda não dava sinal de querer acordar. Inútil, era a palavra para ele no momento. Muitas coisas poderiam ter sido evitadas se ele estivesse ajudando.  Já era para estarmos fora dali e com um pedaço do espelho. Enfim, reclamar agora não traria minha mão de volta. Eu sabia dos riscos e enfrentei. Limpei meu rosto e voltei a tocar meu chicote. Urrei como um monstro. - Então seus chifres são importantes?- Estalei o chicote e dei dois passos para esquerda. Apesar de alto, meu chicote era bem longo. -Minha mão também era!- Gritei.
Lancei meu chicote e enrolei no chifre da criatura. Mesmo com dor eu fiz uma força imensa para segura-lo e se conseguisse, iria arrancar aquilo que ele chama de chifre com um puxão só.

 

What do you want?

Coletei as nove esferas e me aproximei da estátua. Para mim estava tudo terminado, mas ao me aproximar, a estátua estava com a flecha mirada para minha cabeça. Eu estava suando muito quando comecei a ouvir uma voz ecoando em minha mente. Era uma voz calma e que me trazia um certo conforto com aquela flecha mirada para mim. Estar confortado naquela situação realmente era estranho, mas eu estava.

A voz que ecoava me trazia um pequena enigma. Um enigma onde eu tinha que descobrir o nome daquele que falava em minha mente. Daquele que era metade cavalo, metade humano. Embora eu já tivesse ouvido aquela voz eu não a estava reconhecendo. Enquanto eu estava pensando em algum nome a estátua preparou a flecha novamente. Aquilo estava me deixando com medo. Eu tinha que responder logo ou se não eu iria morrer ali mesmo.

Aquilo estava se tornando uma tarefa difícil, pois nada vinha a minha mente. Era como se eu estivesse quase dormindo e tudo se tornando branco em minha cabeça, mas de repente vários nomes de centauros passaram por minha cabeça. Asbolus, Bienor, Elatos, Tereo e entre outros, foram alguns dos centauros que lembrei. Mas dentre eles apenas um se destacou. Eu já sabia o que tinha que dizer, então olhei para a estátua que apontava a flecha para mim e levei a mão até meu peito, que batia aceleradamente. 

- Seu nome é.. – hesitei um pouco – Quíron?

Listening: ガナガナGO! by RAINBOW ✖ tks, clumsy!

 

What do you want?

A estátua rompeu-se deixando um pedaço de espelho e o arco dourado para trás. Recolhi o fragmento do espelho, guardei minha nova arma e ouvi a voz novamente. Depois que a voz desapareceu, senti que deveria continuar o meu caminho. Eram tantas salas ou caminhos que me davam uma certa dor de cabeça; eu não sabia para onde ir.

Segui o caminho da esquerda do templo de Sagitário e logo entrei na mesma espécie de corredores arredondados seguidos de um pequeno ziguezague. Andei por corredores extensos e com poucos caminhos alternativos para seguir e de repente me vi em vários ziguezagues. Ou era o caminho ou eu que estava ziguezagueando por aí, e aquilo me deixava um pouco tonto.

Entrei em um corredor curvilíneo e no final dela só havia uma entrada. Virei com tudo e dei de cara em uma porta grande de madeira maciça. Olhei para o mapa e me localizei. Eu estava na frente da porta de Peixes.

Listening: 하.니.뿐 by 2PM ✖ tks, clumsy!

Eu já não sentia mais a dor no meu braço, a morfina que meu corpo liberava era mais que o suficiente. Era óbvio que eu não iria conseguir destruir essa máquina de primeira e muito menos sem ajuda do inútil do Oliver. Um raio laser saiu do meio do robô e por pouco não me atingiu. Respirei fundo e pensei em algo, alguma saída, mas foi tarde demais. Meu corpo foi jogado, como uma explosão. Meu corpo voava e tudo tremia como uma grande gelatina. A casa de touro estava toda decorada com meu sangue. Quando o peso de meu corpo tocou ao chão, senti uma grande dor em tudo, como se eu tivesse caído em um monte de lixo duro. Passei a mão em minha cabeça e abri os olhos. Estava tudo embaçado e difícil de enxergar, o sangue me atrapalhava. Esfreguei meus olhos, com a intenção de limpá-los. Levantei meu corpo apoiando minha mão no chão e cuspi um pouco de sangue.

Olhei para frente e aquela coisa horrível se aproximava, não tinha avistado o corpo de Oliver, até porque minha vista não estava lá aquelas coisas. Respirei fundo. Eu sabia que no fundo eu tinha energia de sobra para derrota-lo e usar minha ambrósia agora seria desperdício. Precisava sair dessa sala o mais rápido possível. Precisava de algo que me ajudasse, algo que não precisasse tanto de minhas habilidades corporais, como minhas mãos, mas o que eu carregava comigo era inútil. Talvez aquela fosse a hora em que eu deveria caminhar em frente e esperar que o próximo laser fizesse de meu corpo uma simples poeira. Sinceramente eu não sei o que os deuses enxergam em mim, não sei qual a intenção de brincarem tanto assim comigo. Sou apenas uma filha de Deméter e Caçadora de Ártemis, e se eu morresse agora não faria diferença nenhuma para o Acampamento e para esse mundo sujo que os humanos transformaram. Se eu fosse começar a pensar em tudo que já passei e todas as vezes que pensei em desisti, obviamente eu ficaria ali aguardando a morte, mas no fundo, bem no fundo eu sabia que eu deveria lutar e acabar com essa máquina estúpida. Respirei fundo e pedi ajuda para Ártemis em meus pensamentos. Lady Ártemis, a quem sou devota. Me ajude nesse momento e serei eternamente grata.  Se minha deusa iria me ouvir, era outro caso, mas eu estava disposta a terminar com aquilo. Apesar do sangue eu ainda sentia meu corpo enérgico e habilidoso, afinal tenho minhas heranças correndo pelo sangue. Todo esse dom para que? Comecei a caminhar rapidamente e logo peguei velocidade, corria pelo lugar com a intenção de atrapalhar a criatura e impedir de ser torrada com o laser. Em minha única mão restava meu chicote, que ganhei de minha mãe quando fui reclamada. Meu objetivo claramente eram os chifres, mas eu não iria conseguir escalar essa coisa com uma mão, não sou tão ninja assim. Eu precisava derruba-lo e com meu chicote.

Com um estalo em minha mente, uma cena foi criada, só não saberia se daria certo, mas não custava tentar. Eu precisava ser rápida. Já que meu chicote era grande, pensei em enroscá-lo em uma perna da criatura e correr em volta da mesma, várias vezes o mesmo movimento e rápido, fazendo assim uma amarração. E seu próximo passo seria diretamente com a cara no chão. Eu só precisava de sorte.

Era como se minha deusa tivesse escutado minha prece. O gigante em questão de minutos caiu e eu estava um pouco tonta de tanto rodar, mas valeu a pena. A sensação de vê-lo caído era maravilhosa e ao mesmo tempo inacreditável. Eu ainda não acreditava que tinha conseguido fazer uma parte do que pensei. Não adianta eu comemorar antes da hora, ainda precisava impedi-lo de levantar. Caminhei perto do corpo dele e desviando das televisões e coisas que ainda caiam por causa da queda. Observei o chifre que de longe parecia pequeno, mas de perto, puxa, era bem grande. Minha mão ainda sangrava, mas agora eu já poderia fazer algo. Tirei o cinto de minha calça e fiz um torniquete. Pelo menos até eu conseguir parar o sangramento totalmente. Eu já não sentia mais dor. Olhei para trás e vi Oliver desmaiado ainda. Bufei e voltei olhar o gigante. Meu chicote encolheu e voltou para minha mão. Bom, o único jeito de derrotar essa coisa é arrancando um chifre. Estalei meu pescoço e enrolei meu chicote na ponta do chifre, como se estivesse preso ali. Com a mão direita puxei o mais forte que pude e com meu pé lancei um chute na base do chifre. Uma sequência de chutes. Minha força estava dividida, um pouco no braço e um pouco na perna. E força no caso era o que não faltava.

Se tudo isso desse certo, talvez eu saísse desse lugar viva e com Oliver nos braços.

 

What do you want?

Ao passar as grandes portas da casa de peixes me deparo com um enorme jardim de rosas vermelhas. O espaço era muito amplo. Ao centro um garoto “brotava” em meio as flores. O conjunto daquela casa me deixava fascinado e por isso nada falei. O garoto se apresentou, mas continuei quieto. Eu apertava o armamento em minhas mãos com força. Eu tinha que estar preparado, independente de quem seria o primeiro movimento.

O garoto com rosto de bebê dilacerou as rosas ao seu redor fazendo com que elas formassem uma espécie de chuva vermelha. O perfume era um pouco forte para mim, mas me mantive firme. Enquanto o menino avançava para cima de mim com sua espada que transformava-se em um chicote, pensei em uma forma de me proteger ou contra-atacar.

Graças a Hipnos minha mente estava boa, ou seja, eu não estava com muito sono. Guardei minha espada astral e saquei minha nova arma: Sagitta. Quando o garoto saltou, comecei a correr na direção contrária do salto, passando por debaixo do garoto. Usando meus pés para derrapar e minha “boa velocidade”, me virei com tudo com uma flecha preparada e apontada para o garoto.

- Meu nome é Cain. E é um prazer lutar com você – sorri para o garoto.

Listening: 대.다.나.다.너 by VIXX ✖ tks, clumsy!