The Crimsom Boar - Missão para Maya e Mathew

Eu estava em meu milésimo sono quando eu fui desperta por um grito vindo da floresta. Nunca tive um sono pesado, na verdade, por benção - ou maldição - de Hipnos. Quando ouvi o grito, quase cai da cama de susto. Não era comum pessoas gritando no meio da noite, ainda mais daquele jeito. Preocupada com o que estava ocorrendo lá fora e ao mesmo tempo com medo do que poderia estar ocorrendo, peguei uma peça de roupa qualquer e me vesti. Eram um jeans e uma blusa negra do Slipknot. Quando eu saia do banheiro, ouvi alguém batendo na porta. Fui atender com um pé atrás.
─ Quem é?
─ Sou eu, o centauro Quíron. Pegue o que puder e venha a Casa Grande.
Peguei o Escudo Minerva e a Erganê antes de sair rumo a Casa Grande. Haviam outros semideuses igualmente curiosos saindo de seus chalés após serem convocados por Quíron portando o que conseguiam carregar e alguns haviam tido a ideia de trocar-se também antes de sair. Troquei olhares com um filho de Ares ali perto e fomos correndo para Casa Grande. Nenhum de nós dois falou nada, mas aquela sensação de estar em grupo com alguém estava ali, pairando sobre nós. Nos unimos aos demais semideuses que estavam ali e a Quíron em sua cadeira de rodas preocupado. Respirei fundo enquanto ele observava quem havia respondido ao seu chamado.
─ Creio que todos aqui ouviram o grito. Alguns de vocês venham comigo a floresta. ─ Falou e indicou alguns semideuses, o que incluía eu e o filho de Ares que eu havia visto antes.
Eu ainda estava meio drogada de sono quando adentrei na floresta com Quíron e os demais escolhidos. Sentia que, se eu não lutasse para me manter desperta, acabaria me encostando numa arvore qualquer e dormindo. Se bem que o pio das corujas e o farfalhar das folhas era por demasia assustador para me permitir dormir...
Devemos ter andado por quase quinze minutos no meio da floresta até chegarmos a uma clareira e... Ah, como aquela visão era horrível! Reprimi um grito e pus as mãos frente a boca enquanto olhava para aquilo. Sangue por toda parte, os corpos mutilados de um casal, possivelmente semideuses desavisados que foram para lá. A cena afastara o sono daqueles que ainda não estavam totalmente despertos. Parecia uma dessas cenas de filme de terror ou de uma serie de games que eu costumava jogar no vídeo-game, de nome Fatal Frame.
Eu me perguntava silenciosamente o que fizera aquilo e só quando me recuperei do susto tive tempo de notar os cascos e pelos pelo chão iluminado pelo brilho fraco e assustadoramente pálido do luar. Eram várias as perguntas e pareciam se repetir para todos os semideuses: Quem ou o que? Por que fizera isso? Como? O que aquele casal fazia por aqui a esta hora?
Então fora Quíron que quebrara o silencio. Precisava dar uma explicação ao restante do Acampamento e iria dar. Mas dois semideuses iriam ter ficar ali para me investigar aquilo tudo para ele.
─ Eu fico! ─ Falei ao mesmo tempo que o filho de Ares, em um súbito de coragem inexplicável. Nos olhamos por um templo e depois olhamos para Quíron. ─ Nós cuidaremos disso, senhor Quíron. ─ Ele assentiu e se foi com os outros, após nos entregar uma Ambrosia e nos aconselhar a tomar cuidado. Quando ele se afastou, olhei com calma fingida o filho de Ares. Teriamos que deixar de lado a rixa de nossos pais e trabalhar em equipe. ─ Hmm... Vamos dar uma olhada nas pistas que temos aqui... Elas podem nos sugerir algo. Sei lá, pelo menos o tamanho aproximado do bicho deve ter como saber pelo tamanho das pegadas. ─ Declarei dando de ombros para ele. ─ Se não chegarmos a nenhuma conclusão por aqui mesmo ou mesmo se chegarmos, teremos que resolver se vamos esperar amanhecer para ir atrás dele ou se iremos ainda a noite.
Me dirigi a um bolo de pelos próximo e me abaixei ao lado dele para observar. Eram de um castanho avermelhado tipico de pelagens de Javalis, mas não relacionei o pelo ao animal, pois de certo haviam outros com a mesma tonalidade. Peguei os pelos e fui com o tufo na mão até algumas pegadas para analisar o tamanho delas.

×××

Agora eu entendia mais ou menos o porquê dos demais campistas falarem que os semideuses de Ares só servissem para arrumar brigas. Respirei fundo e tentei concentrar-me no que fazer. Precisaria ser o mais calculista e logica possível para sair dali ainda mais com vida. Peguei o bastão no chão. Era uma pista e eu não iria simplesmente deixa-lo largado por ali. O tufo de pelos foi guardado em um bolso de meus jeans. Gostaria de ter procurar mais informações sobre seja lá qual monstro for aquele que o deixara ali.
Eu me questionava se realmente tinha sido uma boa ideia me oferecer daquela forma para ficar. Eu nem ao mesmo tinha tanta experiencia assim. Precisava manter minha mente calma. Lembrei das pessoas que moravam ali, no Acampamento, que precisavam de uma explicação. Lembrei de minha prima paterna. Então comecei a obrigar minha mente a pensar naquilo de forma mais racional possível. O que fazer? Precisava manter a calma já que eu estava praticamente sozinha por ali. As únicas certezas que eu tinha era que o animal era pesado, de tamanho mediano, bem agressivo e quadrupede. O formato dos cascos... Tentei relacionar a algo enquanto observava o bastão e andava de um lado para o outro. Queria ir atrás da criatura, mas pensava se não deveria primeiro saber o que eu deveria enfrentar quando eu achasse. De certo modo, aquilo pouco me importava se eu tivesse chances de sair viva.
Toda hora que eu ouvia um som mais alto, eu olhava ao redor temerosa. O que poderia causar todos aqueles sons? Será que a floresta era realmente tão perigosa quanto todos diziam? Tá, os semideuses ali não teriam sido mortos daquela maneira se não fosse perigosa mesmo. Cocei a cabeça preocupada e de repente me veio a mente que o cheiro de semideuses vivos iria atrair os monstros para lá e estar andando de um lado para o outro só serviria para espalhar o ar com o nosso "perfume" pela floresta. Olhei para o rapaz com uma calma fingida abalada pela lembrança do cheiro que tínhamos.
─ Temos que sair daqui, agora! Ficamos muito tempo aqui parados e isso é muito ruim aqui dentro dessa floresta maldita. Podem ter nos... sentido. ─ Minha voz tinha aquele tom urgente e nervoso de filmes de terror no momento que uma das vitimas - ou futuros mortos, como preferir - se toca que está em um lugar extremamente vulnerável e precisa sair logo dali no começo, mas no final foi abaixando e se tornando quase uma frase dita para mim mesma.
Levei alguns segundos observando o céu sobre mim, olhando cada constelação e procurando alguma para me guiar naquele lugar onde eu não fazia a menor ideia de onde e como andar. Usaria as constelações para me guiar mais ou menos para uma direção, o luar para iluminar o caminho que eu deveria seguir e também a trilha de sangue deixada pela criatura para poder encontrar meu alvo.
─ Deuses, por favor, nos auxiliem. ─ Sussurrou. Claro que os deuses podiam ouvi-la, por isso não precisava gritar para ser ouvida pelas divindades. Depois de solicitar a ajuda, a garota foi seguindo o rastro de sangue com cuidado para não ficar muito em cima dele e sempre conseguir ver, por entre as arvores, a lua e a constelação escolhida anterior mente.
As vezes, para confundir algum monstros que estivesse por perto, eu me afastava um pouco da trilha e me esfregava em alguma arvore para deixar meu cheiro por lá e também me utilizei de um pouco de folhas caídas e terra para tentar tornar meu cheiro menos evidente aos narizes das criaturas residentes por ali. Solicitei a Matthew que fizesse o mesmo para garantir nossa segurança por pelo menos algum tempo.

Poderes e Explicações:

Eu me sentia um pouco mais confortável agora que via que nada estava a me atacar naquela floresta. Realmente era reconfortante ver também que sua ideia aparentemente estava dando certo no que dizia respeito a despistar os monstros e seguir o rastro que o alvo havia deixado para trás. Os ruídos na floresta começavam a não me deixar tão nervosa quanto antes, mas ainda ficava agitada sempre que ouvia algum som próximo a nós, como uma reação normal de quem estava em um ambiente anormalmente perigoso.
Quando chegamos nas Acácias, eu pude relaxar um pouco. Inicialmente acreditava que não iria correr nenhum perigo por ali. Até mesmo achei que poderia aproveitar aquele sossego para pensar no que fazer! Eu poderia até ter ficado nervosa por causa dos corvos, mas achei que talvez fosse comum aquele comportamento naquele lugar. Claro, porque no nosso "mundo", nada era o que parecia ser e as coisas funcionavam de modo bem diferente. Ajeitei minha roupa toda desarrumada e continuei andando relaxada até que... O que era aquilo? Olhei para Mathew fingindo estar despreocupada, com uma calma quase arrogante até. Não iria admitir para aquele garoto que eu estava nervosa, não mesmo. Então veio o outro e a visão de um dos acúleos em frente ao pé dele me fez acordar para a realidade do lugar.
Eu estava apavorada. Um lugar antes tão belo e até mesmo pacifico agora era quase um inferno para mim. Meu inferno particular, arriscava dizer, pois eu que havia guiado o grupo até ali. A única certeza que eu tinha era que aquele lugar queria nos matar e iria o fazer se não arrumássemos um jeito de fugir logo. Pensei nas possibilidades por um segundo. Voltar e procurar outro caminho ou continuar correndo e utilizar o escudo para causar um pouco de vento caso aquilo tudo começasse a descer, além de usar como proteção eventual. Ambas as ideias eram ruins, mas tinham chances iguais de dar certo. Preferi utilizar a segunda ideia e acrescentar um adicional: eu ia correr separada do filho de Ares por dois ou três metros, uma distancia que eu considerava suficiente para evitar armadilhas para ele e, ao mesmo tempo, auxiliar ele caso houvesse algum problema qualquer em que eu pudesse ajudar sem me arriscar muito.
Já estava naquele momento que proteger minha própria vida era mais importante do que me preocupar com o que aquele garoto fazia ou não. Obrigava meu corpo a se mover com o máximo de velocidade que podia. Depois eu ia precisar descansar, mas pouco me importava com o que teria que fazer depois. Precisava me preocupar com o AGORA e aquele momento não me permitia parar para pensar ou jogar conversa fora.
Enquanto corria, fui em zigue-zague por entre as arvores mantendo uma distancia mediana delas. Uma tentativa de arrumar uma proteção extra para mim.

─ Desgraça! ─ Gemi de dor baixo. Precisava ser muito mais do que dedicada ou até mesmo inteligente para conseguir sair dali. Manter a cabeça no lugar era difícil em um ambiente como aquele. Dobrei o braço que segurava o escudo e coloquei o cotovelo apoiado no chão levemente inclinado em minha direção a fim de dar uma cobertura parcial a mim para conseguir me erguer enquanto forçava a parte superior do meu corpo para cima. Com esforço, me obriguei a tolerar a dor e me erguer. Não queria morrer ali, eu não poderia morrer de forma tão estúpida quanto aquela em que me encontrava. ─ VEM!
A dor causada pelas estacas fincadas em minha pele era enorme, mas não ousaria parar ali para arrancá-las de meu corpo enquanto estivesse em zona de risco. Voltei a correr com cuidado para evitar mais ferimentos e me xingando mentalmente por ter abaixado a guarda. Me lembraria de não repetir aquilo novamente. Eu me obrigava a correr para o rio imaculado em minha frente, onde eu estaria segura em relação aquelas estacas.
Foquei minha mente em sair dali viva, independente do que custasse isso ou do quão cansativo fosse.

Um detalhe que esqueci anteriormente:

Observação:

×××

Por menos que eu gostasse daquele garoto, não poderia deixa-lo ali para morrer. Voltei correndo para perto dele mantendo minha defesa da forma em que podia e peguei ele pela parte de trás gola da camisa e tentei ergue-lo. Constatei que era pesado demais para tentar leva-lo nas costas ─ literalmente. Então teria que ir arrastando-o e defendendo a nós dois enquanto isso.
Era realmente difícil manter a defesa para dois e tentar não perder tanto sangue assim. Quando cheguei na margem do rio, desativei o escudo e segurei o filho de Ares com as duas mãos. Me abaixei e fiz um esforço tremendo para coloca-lo em minhas costas. Amarrei a blusa dele na minha para dar uma segurança extra. Então comecei a nadar com dificuldade. A água gelada causava dor em meu braço. Eu tremia de frio ali também. Possivelmente pegaria um resfriado depois, mas isso não me incomodava tanto agora. Haviam coisas mais importantes com o que se preocupar do que pensar em um simples resfriado. A força da correnteza não ajudava muito também. Aquela era, de fato, uma tarefa complicada de se realizar nas atuais condições. Tinha que erguer a cabeça dele e o corpo para que ele pudesse respirar e ainda tinha que lutar contra a água. Oh, vida...
(...) Quando toquei a margem do outro lado, soltei as camisas e deixei-o deitado de bruços. Peguei a Erganê no bolso e ativei, fazendo que ela virasse uma faca bem afiada e então cortei uma tira da blusa para utilizar como bandagem. Removi o espinho do meu braço e então envolvi o local onde ele estivera com ela, segurando uma ponta com os lábios. Apertei o máximo possível e dei um nó firme. Aquilo deveria segurar o sangramento por enquanto. Pus-me então a pensar no que fazer. Não poderia deixa-lo ali sozinho desacordado, mas também arrasta-lo por ai era uma enorme desvantagem. Dei de ombros e comecei a olhar o ambiente ao redor, a procura de alguma pista ou detalhe importante.

×××

Não havia jeito. A única coisa que eu havia pensando não funcionara então teria que utilizar a Ambrosia se quisesse que aquele sangramento parasse. Tateei os bolsos casando. Onde foi que eu havia a deixado mesmo? Entre as vestes molhadas e a calça pesada pela água do rio, eu peguei a ambrosia depois de longos cinco minutos procurando e ingeri. Olhei o ambiente em volta mais uma vez e peguei o corpo dele e deixei embaixo de alguns arbustos para criar uma especie de esconderijo para ele e deixa-lo menos visível. Pelo menos as plantas poderiam disfarçar o cheiro dele e, ainda, não deixaria-o completamente ao relento e a vista de monstros. Quando ele despertasse - se despertasse antes de eu voltar - talvez tivesse o cuidado de não voltar para a floresta mortal. Como não sabia se precisaria também, procurei a ambrosia dele e guardei comigo.
─ Desculpe-me garoto, mas acho que em combate esta ambrosia poderia me ser mais útil do que a você, ai inconsciente... ─ Sussurrei e me ergui. Resolvi que, agora que o rapaz estava em um lugar levemente mais seguro, era hora de procurar mais coisas e resolver aquele problema todo.
Puxei a Erganê do bolso, a transformei em faca e também ativei o Escudo Minerva. Deveria estar preparada para qualquer coisa e ter que ativar os dois e pegar a adaga, em meio a um combate, não seria nem um pouco agradável. Aspirei o ar da noite e olhei para cima, mirando a copa das arvores.
─ Talvez eu não tenha sido a melhor semideusa que os senhores já viram, também não devo ser a mais benevolente e muito menos a mais inteligente. Não sei de quem aqueles semideuses lá atrás eram filhos e não sei também se são semideuses, mas os senhores sabem que estou tentando desvendar o que aconteceu com eles e, no que depender de mim, seja lá qual criatura fez isso, não sairá impune. Ela pagara com a vida dela pelo que fez, sangue por sangue. De todo modo, gostaria de pedir que os senhores - aqueles que estiverem me ouvindo nesta prece - me deem a sabedoria e apoio que puderem. Gostaria também de agradecer a grande deusa Nyx, por ter me dado o auxilio suficiente para achar o caminho, a deusa Selene, por fornecer-me também a luz da lua para poder seguir a trilha, ao deus Hipnos por ter me dado um sono leve o suficiente para ouvir o grito e ter me deixado acordada e sem tanto sono até o presente momento e, também, a deusa Ártemis, a quem me inspirei para me movimentar na floresta. E também a minha mãe por permitir minha habilidade com escudos. ─ Deuses eram orgulhosos, lembrei a mim. Antes de pedir algo, era melhor que você agradecesse a eles até mesmo por coisas que eles não haviam feito diretamente.
Depois de realizar a prece, utilizei a mesma tática de disfarce de antes: usei folhas de plantas e terra para ocultar o cheiro de semideus molhado de mim e segui meu caminho parando sempre em pontos estratégicos onde arvores encobrissem-me e eu poder olhar com atenção o caminho. Estava tentando vagamente decidir de onde vinha o cheiro de bacon e ao mesmo tempo localizar o vulto que eu vira - ou achara que vira - algum tempo antes.

Eu levei um bom tempo parada entre os dois caminhos pensando em qual seguir e olhando freneticamente para os lados. Era quase como escolher entre a vida e a morte, o bem e o mal. Dei uma boa olhada para trás, não que eu quisesse voltar e deixar tudo aquilo para trás. Eu havia quase morrido para poder chegar ali, não desistiria agora que estava tão perto de resolver aquele enigma todo. Seja lá o que estivesse tocando, poderia ser até mesmo alguma fonte de ajuda. Respirei fundo e parei para pensar: onde seria mais logico a criatura ir? Ela possivelmente não pensaria no que era logico ou não fazer e seguiria o caminho que ela desejasse. Revirei os olhos, eu estava quase discutindo comigo mesma para saber por onde a criatura iria. Bati em minha cabeça com as costas da mão que segurava a adaga e depois sacudi a cabeça para clarear as ideias. Seja como fosse ou o que estivesse ocorrendo por ali, eu iria arriscar seguir a musica e ver no que isso iria resultar.
Com um pé atrás do outro, comecei a rumar em direção a musica. A floresta escura aumentava a tensão, os filmes de terror que assistira e todos os games que eu joguei em minha vida passavam em minha mente com a musica Monster - Skillet. Mortes, monstros, fantasmas, zumbis... Tudo em minha mente em câmera lenta enquanto meus olhos procuravam com temor evidente algo prestes a me atacar a cada arvore. Eu continuava empunhando a faca e mantinha o escudo preparado. Estava preparada para combates próximos e me acostumava com a ideia que eu estava no momento mais insano e suicida de minha vida. Arvores, trevas, animais noturnos... Era apenas isso que eu via ali naquela hora. Em uma confusão de pensamentos e realidade, eu as vezes perdia a noção do que era lembrança e o que era realidade. Me esquecia o que era real para me lembrar do que era real... Os sons da floresta não eram tão mais evidentes com a combinação Monster e musica tocada por sabe-se lá o que.
E depois de andar quase uns 10 minutos, a minha mente sossegou. Aquela trilha não parecia ter fim. Quando mais eu andava, mais parecia que eu teria que andar. Precisei de um bom tempo andando quando cheguei, finalmente, a uma clareira. Eu podia ver o céu ali. Sentia um misto de calma e temor. Calma porque uma clareira significava ausência de arvores e isso tirava locais para se esconder. Medo porque era até ali que a musica me levara e também porque ali não haviam lugares para mim me esconder.

Minha mente estava em um misto de sono, admiração, curiosidade e um pouco de medo. Quem seria aquele... Anjo? Eu não tinha palavras melhores para descreve-lo. Por que ele me fizera ir até ali seguindo aquela melodia tão bela e melancólica? Fiquei o admirando por um bom tempo antes de cair em mim e notar que eu deveria fazer ou falar alguma coisa. Entre o fraquejar do meu corpo e o peso das palpebradas eu notei que estava com sono. Interliguei isso, inicialmente, a noite mal dormida e aos dias cansativos do Acampamento e também a viagem que fizera a pouco tempo para tal.
Coloquei a mão direita em frente ao ombro esquerdo sem toca-lo e me inclinei fazendo uma reverencia para tal. Obriguei-me a dar mais alguns passos arrastados até tal, mas meu corpo não aguentava ir muito mais longe. A gentileza do anjo e sua serenidade me deixavam cada vez mais admirada e curiosa. Me perguntaria se eu conseguiria negar-lhe um pedido caso este me fizesse algum pedido, independente da natureza deste. Seria aquilo a magia de um anjo - literalmente - ou a crueldade de um monstro? Não importava.
─ Bo-boa noite, meu senhor. ─ Pronunciei com dificuldade e em uma voz arrastada. Tentava lutar contra a sonolência repentina, mas estava difícil. Até mesmo pensar em algo era complicado. ─ Perdão... Pela demora. Eu... Em que posso ajuda-lo? Existe algo que o senhor deseja? ─ Perguntei. Eu me abaixei e fiquei de joelhos, depois sentei sobre os calcanhares. Inclinei a cabeça levemente para o lado, forçando meus olhos a ficarem abertos. ─ Espero não ter lhe atrapalhado também, senhor.
Por algum motivo a aflição havia partido. Talvez agora a lembrança das historias de anjos protegendo as pessoas e cuidando delas me acalmasse. Mas, espere, eu vivia uma realidade bem diferente daquelas das historias. Sacudi a cabeça e me recordei que eu possuía uma missão a concluir também. E agora eu notei que se ele me chamara talvez eu não estivesse de fato atrapalhando. E aquilo tudo ocorrera após eu pedir ajuda aos deuses. Iria fazer algumas oferendas aos deuses quando aquilo passasse. Abri a boca para falar algo, mas era melhor esperar que ele se manifestasse por vontade própria.

Uau. Um deus estava ali, parado bem na minha frente. Meus olhos se arregalaram quando ele tocou minha face. Seu riso por outro lado tinha um efeito apassivador, acalmava meus nervos agitados e retornava minha mente ao estado quase normal. Ouvi com atenção as palavras dele. Meu tio adotivo... Toquei minha garganta com uma mão e a outra abri diante de mim para aparar um pouco do pó que caia. Ouro. Deixei-o cai e olhei novamente para o homem.
Tinha que ter cuidado especial para não ser rude e, ao mesmo tempo, saciar minhas duvidas. Seja como for, eu preferia acreditar que não fora ele que causara a morte dos campistas e nem estivera envolvido.
─ O senhor... O senhor ouviu a minha prece agora pouco? Perdão se não agradeci-lhe de forma correta, irei fazer a oferenda ao senhor assim que sair daqui. ─ Murmurei fitando-o atenta a cada pequeno detalhe. Aquela era minha chance de ter minhas perguntas respondidas, mas era melhor ser cautelosa. Talvez ele dissesse por conta própria o que eu queria saber, não é mesmo? ─ Não posso afirmar quando isso ocorrera, porque creio estar longe do que fez aquilo com os campistas lá atrás, mas eu o farei. Seja lá o que foi, conseguiu deixar as coisas bem confusas...
Dei de ombros. Preferi não fazer perguntas diretas. Isso poderia tornar as coisas ainda piores... E se ele achasse que eu estava sugerindo que ele que havia feito aquilo?

Já estava me acostumando com o jeito dele quando houve a mudança repentina. O que era aquilo? O por quê eu já não ia saber mesmo, então era melhor eu me preocupar em sobreviver. Quando ele investiu contra mim, eu quase agradeci ao deficit de atenção de semideuses. Eu me joguei para o lado e tentei utilizar o escudo e a faca ao mesmo tempo ─ cada um em um ponto ─ para tentar limitar o resultado a ser arremessada longe, o que me daria alguns segundos antes dele voltar para me atacar. Eu poderia nunca ser tão rápida ou forte quanto um deus, mas tentei empurrar o escudo e a faca ao mesmo tempo para causar um impulso para trás e arqueei as costas ao mesmo tempo que me preparava para o impacto contra o chão. Apertei os olhos por alguns segundos enquanto mantinha o escudo cobrindo parte do meu corpo e rolava para o mais longe dele que o terreno permitisse e tentei me concentrar o máximo possível em um ato que eu já sabia que seria impossível: tentar pegar algum fio de pensamento dele. Duvidava que uma habilidade tão leiga fosse funcionar em um deus, mas tentar não iria ser a pior coisa do mundo.
Quando abri de novo os olhos, desenhei um arco com um escudo para defender possíveis ataques. Passei o peso para parte das costas e peguei impulso com as pernas com isso para me jogar para cima e assumir novamente a posição defensiva.
─Isso não é preciso! ─ Reclamei.

Habilidades:

─ Por que? ─ Estava confusa demais com o que houvera ali para fichar chateada com o deus pelo que havia ocorrido ali. Minha mente conturbada estava curiosa demais e eu sentia a necessidade absurda de ter aquelas perguntas respondidas. Toquei minha cabeça com os dedos e esfreguei a minha testa. ─ Minha cabeça... ─ Murmurei. Com certo esforço, coloquei-me em pé e fitei a face do homem.
Soltei o ar pela boca e me certifiquei se eu estava inteira. Ao que me parecia, nada de errado havia acontecido com meu corpo. Um sorriso fraco surgiu em meus lábios, uma forma de dizer a ele que estava tudo bem, sem o menor ressentimento pelo ocorrido. ─ Não se preocupe. Eu me recordo do mito, quer dizer, historia dos dois. ─ Era difícil as vezes recordar que algumas coisas NÃO eram mitos e sim realidade. Só esperava que o deus compreendesse que era difícil racionar as coisas em situações como aquela, mesmo para uma filha de Athena. Deuses, quanto mais tentamos entender, mais confusos ficamos, pensei ali na minha.

─ Perdão pela minha tagarelice, mas gostaria de fazer-lhe algumas perguntas, caso não se importe. Se preferir não responder tudo bem também. ─ Murmurei. Não precisava falar algo, já que ele estava ali ao meu lado e, bem, a audição dele era infinitas vezes melhor do que a minha também. Disso eu tinha certeza. ─ Quando cheguei aqui na floresta com os outros campistas e me ofereci para esta busca, não sabia o que devia procurar e nem nada. Eu passei quase o tempo todo tendo que trabalhar sozinha, apesar de ter um outro campista na floresta que deveria estar me ajudando, só que caiu inconsciente e eu não vou ficar por ai arrastando o corpo dele. Já fiz demais em salvar ele da morte ali antes do rio e Thanatos não deve estar nem um pouco contente por isso. Mas independente de o quão difícil tenha sido chegar aqui e, por sinal, agradeço pelos instantes que passei dormindo porque isso restituiu um pouco minhas forças. Eu gostaria de saber para onde ir, não faço a menor ideia do que fazer. Se o senhor puder me dar alguma informação, tio. Talvez o senhor possa me dizer o que estou procurando ou para onde ele foi. Considerei ir para o outro lado, mas não sei a flauta foi mais atraente. Senti um cheiro de bacon também e... ─ Me recordei das pistas que eu coletara no caminho e procurei elas. Mas infelizmente devo te-las perdido no rio enquanto atravessava. ─ As poucas pistas que tinha aqui comigo foram levadas pela correnteza do rio, perdão. ─ Abaixei o olhar, ficando a fitar o chão ali embaixo de mim. Nunca havia tido uma conversa com minha mãe ou com qualquer outro deus antes, aquilo era uma nova experiencia para mim. Ok, estava no meio de uma missão e com um companheiro largado no meio do mato, mas não havia como ficar nervosa perto dele, tinha? Fora que perder o controle perto ia apenas demonstrar um grande desequilíbrio mental e emocional e isso não seria bom para a minha pessoa. Na verdade, seria péssimo.