❀ White Belladonna - Alba's Shop ❀

Eu estava atarefado com meu jardim de inverno que fica no meio da minha loja, entre a cozinha experimental e a estufa, bem atrás da estante de livros botânicos que coleciono desde que me lembro. Minhas rosas estavam lindas e bem brancas e os corações sangrentos maravilhosos, pendendo de uma cordinha sobre as rosas. Tinha até algumas borboletas negras rajadas de rosa bem intenso. Quando eu ia podar algumas ervas daninhas, ouvi o sininho me chamando. Soltei as tesouras, a terra soterrou uma flor e sem querer matei uma borboleta. Eu me assustei e corri para o seio da loja as pressas. Não é sempre que tenho clientes.

Sai do jardim com metade do corpo sujo de terra. Eu vestia um macacão até a cintura, já que as alças estavam pendidas ao lado do meu corpo, ao redor da minha cintura, dando a volta pelo meu bumbum. Meu tronco estava descoberto, suado e com terra. Meus muculos latejando pelo trabalho árduo do dia e meus cabelos úmidos de suor. No meio do meu nariz havia um band-Aid, uma das roas rasgou parte do meu nariz e fiquei com preguiça de me curar. Eu estava com luvas amarelas e bem diante de mim, meus olhos castanhos miravam o menino mais lindo do mundo. Loirinho, olhos acalentadores da cor dos meus. Cheirando morangos e deliciosamente faminto. É, eu sinto essas coisas, não me diga como. Agarrei o menino pela gola o puxando contra o balcão. Abri meus braços fortes e o envolvi num abraço de irmão-urso. O espremi contra meu peito nu e beijei sua bochecha com ansiedade. Fazia tempo que não o via e eu estava com saudade - Quanto tempo meu irmão - falei em sua orelha e me afastei bagunçando seus cabelos cor de mel.

Sorri para meu meio-irmão. Um sorriso capaz de derreter a neve do inverno e trazer a primavera em instantes. coloquei a mão em meu bolso e tirei várias frutas dele. O poder de Cornucópia é bem útil. Banana, caqui-chocolate, peras, cerejas, maças, ameixas e uvas-italia - Está com fome? - pergunte acariciando a bochecha do meu irmão e logo em seguida cruzando os braços. Meus olhos o admiravam como quem olha um quadro.

Revirei os olhos enquanto meu manino perguntava tudo o que podia numa unica frase. Ignorei a maioria delas, já que não em era interessante responder a tudo quanto ele desejava, sabendo que ele já sabia quase todas as respostas de suas perguntas bobas. Recebi um outro abraço e da mesma forma o comprimi entre meus músculos. Debrucei-me pela minha bancada e tirei uma folha da cabeça do meu querido maninho. Deslizei a mesma sobre seu nariz e sorri fraterno e sensualmente discreto. É, as vezes acontece, não consigo evitar esses sorrisos atrevidos que atraem as pessoas. lhe dei um soquinho no queixo bem de leve para não machuca-lo - Me deixa um pouco de lado - falei me referindo as suas perguntas - vamos falar de você... O que tá havendo com o seu coraçãozinho? - perguntei e logo em seguida lhe toquei o peito com minhas mãos grandes. Dava para ouvir o palpitar de suas batidas cardíacas. Não sabia se meu menino iria responder-me. Eu preferia que sim, pois é melhor desabafar do que guardar pra se mesmo. Se ele guardar, a raiz amarga encontrará raízes e lhe sugara as forças que lhe restam. Como uma rosa sangrenta que lhe suga a vida até a ultima gota.

Afastei-me do meu anjinho de jardim e peguei um livro sobre plantas mitológicas. Eu não estava procurando alguma coisa de verdade, apenas folhando e analisando os exemplares. Olhei Gio de canto algumas vezes enquanto refletia sobre se mesmo e comia sua maça. Até criei outra, caso ele quisesse mais - Sobre seu desejo... hoje é por cortesia da casa - afirmei molhando os dedos e folhando o livro.

As vezes eu acho que Giordano é meio que parecido comigo. O motivo? Bom, ele ignorou uma pergunta que fiz, ou seja, nem se deu ao luxo de responder. Mas tudo, bem eu faço a mesma coisa e não me culpo por isso. Enquanto meu manino dizia pra mim o que gostara que eu fizesse, arrumei meu macacão. Eu estava muito indecente, metade do corpo descoberto não é elegante quando estou com um cliente. Mesmo que este cliente seja um irmão. Alça por alça ergui e prendi na fivela da frente. Peguei um paninho e limpei meu rosto sujo de terra. Meu nariz ardeu por causa do ferimento, mas apenas fiz uma careta e sorri bobo anotando o pedido do meu irmãozinho.

Baguncei os cabelos dele e lhe beijei o rosto com ternura. Adoro meus irmãos, mesmo que não seja recíproco, eu os amo incondicionalmente. Peguei uma fita métrica e a estiquei. Olhei um pouco confuso para Giordano e inclinei um pouco o rosto para um dos lados. Entortei os lábios e cocei o alto da cabeça. Apoiei meus cotovelos no balcão, enquanto Gio brincava com o sininho. Avancei meu rosto até o dele, colando nossos narizes, como se encaixassem perfeitamente. Meus olhos castanhos fitaram os de Gio e meus lábios se moveram à uns três centímetros da boca do meu irmão - Bracelete é no pulso ou no braço? - perguntei sem me afastar do rosto do meu irmão.

Giordano foi até que feliz na hora de me explicar o conceito de bracelete. Até me ajudou a tirar as medidas. Agora era só pensar um jeito de esculpir as coisas e deixar os itens sustentados pela vida de Giordano, como ele mesmo propôs. Os perfumes e adornos esculpidos, não precisam da essência de um filho de Deméter, mas as armas e adornos com flores vivas, nos tomam parte de nós mesmos. Sempre que um dos meus itens são usados em batalha, sinto um arrepio. Não posso fraquejar ou uma espada de madeira, por exemplo, pode se partir em milhões de fragmentos. Dei de ombros ao caso e peguei um bloquinho pra desenhar uns esboços do que Gio queria. Uma pulseira espinhosa com uma rosa branca toda especial e, uma outra de vinhas com uma miosótis azulada.

Eu estava pensando em probabilidades, mas meu irmão me pegou de surpresa com um comentário. Dei uma risada alta e deixei o local, indo até minha estufa. Deixei o bloquinho por ali e já deixei preparada as flores que iria usar. Uma flor extremamente branca e outra azulada com pinceladas claras de um azul cerúleo. Voltei para a entrada da loja e debrucei-me sobe a bancada. Roubei um beijo da bochecha de Giordano e lhe baguncei os cabelos - Só pode ser eu... - comentei sorrindo de canto.

As alças do meu macacão pendiam pelos meus ombros, mostrando meu peito liso e robusto. Ergui-me e me dirigi novamente a estufa, mas antes que eu pudesse adentrar o local verdadeiramente, dei uns passos pra trás e voltei a mirar Giordano. Talvez ele não vá gostar, mas eu preciso de um pouquinho dele para completar seus presentes. Colei minha pélvis no balcão e segurei um dos braços de Giordano pelos pulsos para que ele não fugisse. Inclinei meu tronco pra frente e com a mão livre segurei seu rosto com gentileza. Meus olhos encontraram os do garoto e se ele pudesse ler minha mente, daria para saber que ia ficar tudo bem. Abocanhei o lábio inferior de Gio, encostando os meus de leve. Meus dentes romperam sua carne, deixado um ferimento aberto e gotejante. O sangue dele invadiu a minha boca e, olha, é gostoso. Soltei o menino as pressas, antes que levasse um soco, e cuspi o líquido um copinho de vidro que ficava escondido atrás de um vaso. Lambi meus lábios e voltei até a estufa... era hora da minha experiencia - Desculpa pela mordida... - gritei para que Giordano me escutasse - Depois eu faço passar a dor e o inchaço - gritei logo em seguida.

Peguei o sangue do meu irmão e separei em duas porções. Completei com água num recipiente maior e reservei. Colhi as flores e as coloquei nos vasos onde o sangue do meu irmão estava banhado. Dessa maneira as flores estarão ligadas a ele e não a mim, apesar de eu tê-las criado. Com o restante das rosas que sobrara, eu iria fazer o bracelete do primeiro item. Sequei suas hastes, deixando os acúleos bem visíveis e curvados. Coloquei em volta do local onde os braceletes são usados e com um pouco de técnica mágica de Deméter, forcei os galhos secos curvarem-se e se unirem de ponta a ponta. Um lindo bracelete trançado e cheio de espinhos interessantes. Só faltava enraizar a rosa alva e este primeiro item estaria pronto. Um pouquinho de verniz ficaria ótimo também. Admirei o item por alguns segundos e - GIOOOO! - chamei - De quem é a pulseira de Miosótis? - perguntei atarefado, já criando um pé de uva e maracujá.

Um presente pra Nikka? Não sabia que ele era tão intimo de uma filha de Hipnos. Eu pensei que era um presente especialmente para seu, como posso dizer? "namorado". Não gosto muito dele e um dia eu deva dizer os motivos para meu irmão, mesmo que isso lhe parta o coração. Porem ainda não é hora e nem lugar. Estranhei e comecei a deixar as flores de miosótis mais azuis e com seus rococós elegantes e suaves. Quando menos percebi, meu irmão estava lá dentro da minha estufa pessoal. Seus bracinhos envolveram o meu corpo monstruosamente esculpido e meus olhos se arregalaram surpresos com o feito de Gio. Acho que amo ele mais do que ele pensa. Fiquei mais espantado ainda quando ele disse que era um presente pra mim - Hum... Pensei que fosse pro Nathan... - comentei distraído. Falei "Nathan" com um certo receio, mas não deixei que isso influenciasse o meu humor natural. Baguncei os cabelos do meu maninho e lhe apertei as bochechas.

Sobre seu lábio mordido por mim, foi fácil resolver. Segurei o rosto dele com gentileza e com cuidado, passei meu dedão ao longo de sua boca mordida. Massageei a área, sem tirar os olhos dos olhos de Gio. Um olhar fraternal e um pouco sensual demais. Molhei os lábios devagar e aos poucos encostei minhas testa na dele. Nossos narizes se encaixaram e eu sussurrei bem próximo de sua boca - Conta até 10 e a dor vai passar - A unica coisa que não deixava meus lábios tocarem os dele, era o meu dedo. Enfim, minha mágica da cura havia sido executada com louvor. Peguei a coroa de espinhos e coloquei em Giordano. Ajustei o bracelete e enraizei a rosa. Se o outro bracelete era para eu não esquecer dele, certamente este era para ele nunca se esquecer de mim. Sabe, Albafica Triantaphylos, o rosa branca. Sorri misterioso e finalizei o item. Os galhos cheios de acúleos ficam ótimos no meu irmão.

Toquei na terra e uma vinha brotou da mesma. Juntamente com a trepadeira, fiz as gavinhas se entrelaçarem com as flores azuis e como uma planta viva, se enrolasse no meu braço. O trançado verde claro, fez as flores de Miosótis saltarem as vistas. Não pude deixar de sorrir. Acho que esse foi o artesanato mais rápido que já criei. Era perfumado e muito chique. Já fiz um outro item pra mim mesmo, mas este é muito especial. Toda vez que olhá-lo, poderei lembrar de alguém especial. Segurei o bracelete com cuidado e num piscar profundos de olhos, mirei Giordano como se ele fosse meu bem mais precioso. Um poema que me é bom relembrar quantas vezes forem precisas - Gostei do presente. Vai batizar? - perguntei distraído.

Meu irmão demorou tempo demais para me responder. Comecei a achar que ele não estava prestando atenção em mim, ou julgava que eu não fosse tão importante assim. Talvez seu namorado, Nathan, o tivesse influenciado contra mim. Talvez seja coisa da minha cabeça e eu espero piamente que eu esteja errado. Até pensei em não pegar o presente pra mim e, bem, quando eu escutei os nomes dos presentes, não pude deixar de sorrir. Meu rosto alegrou-se, mas meu coração ainda sentia uma pontada de angústia. Kyanós, azul, é o nome ideal para esse bracelete de miosótis e acho que combina perfeitamente com os olhos do - TOSSI - Nathan. Toquei a rosa do bracelete do meu irmão e a tingi de um rosa profundo e enigmático - Ródino, bem melhor.... - toquei o rosto do meu irmão e lhe olhei com doçura. Entreguei meu bracelete azul em suas mãos e sorri caloroso - Dê pra alguém que realmente lhe seja especial - dei um beijo na testa do meu irmão. Um beijo macio, duradouro no qual ele sentiria a pressão dos meus lábios durante o resto da noite. Posso ser a pessoa mais incrível do mundo, mas não para todo mundo. Acho que só Joey me acha a coisa mais perfeita já criada, e talvez meu pai. Fora eles, sou tão comum quanto uma pedra.

Peguei uma vassoura e limpei rapidamente o local. Nutri os meus bebês florais e minhas filhas plantas. Segurei uma lágrima cálida e empurrei meu irmãozinho pra fora da minha estufa - Olha, não preciso de ajuda. Te vejo em casa, tudo bem? Coma alguma coisa saudável e promete que vai ficar pelo menos uma horinha comigo esta noite, ok?! - disse ao meu querido irmão. Eu só precisava limpar o balcão que estava com sangue e arrumar um punhado de terra adubada lá no fundo da loja. Acho que organizar meus livros botânicos pode ser bem útil. Opa, esqueci de avisar pro meu irmão que os braceletes em um poder especial. Acho que ele descobrirá mais tarde.

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