❀ White Belladonna - Alba's Shop ❀

Peguei a mão do garoto de Apolo, fechando o negócio. Arqueei as sobrancelhas num sorriso enorme daqueles que poderiam derreter a neve do inverno e trazer a primavera em questão de segundos. Saltitei até o fundo da loja e trouxe a espada negra como a noite e brilhante como um céu estrelado. Os espinhos no punhal davam o toque especial. Fiz um laço com uma fita e lhe dei o item - faça bom uso dela Matt e lembre-se cuidado para não se cortar com ela - baguncei os cabelos do menino solar e lhe dei um tchau. Meninos de Apolo me fazem tão bem... acho que é porque sou uma planta e plantas precisam de luz solar.

Fitei Tom e suspirei fundo. O líquido branco no tudo de ensaio era meio enigmático. lentamente olhei o garoto e molhei os lábios, pois os mesmos estavam secos Arrumei a alça do meu macacão, cobrindo parte do meu peito nu e sorri tímido - Me conta o que quer esquecer? - falei meio melancólico. Tirei do bolso umas frutas e coloquei no balcão, oferecendo-o como meu visitante e não mais como cliente - O garoto que comeu da raiz não lembra mais da filha de Hades que conheceu.. ela ficou arrasado com o que houve, mas Jeremiah tinha seus motivos para esquece-la... - comentei distante.

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Parece que Tom não se lembra o porque veio até a minha loja. Acho que o suco surtiu o efeito desejado e espero que esse garoto consiga viver com sua decisão. O outro garoto está bem, ele era tão triste e agora está tão feliz que mal o reconheci. Assim que Tom saiu pela porta abri um sorriso labial e pensei “boa sorte Tom”. Peguei um pano e limpei meu balcão para os próximos fregueses que poderia aparecer.

Eu estava regando as minhas plantas. Eu não gosto de usar minha habilidades para cuidar das minhas queridas, pois prefiro a moda antiga. Regar, revolver a terra, adubar e zelar para que não morram. E olha, eu sou muito bom nisso. Eu só parei de fazer o que eu estava fazendo, quando ouvi uma voz familiar lá da entrada. Eu estava vestindo um shorts velho e rasgado, chinelos pretos, luvas de jardinagem e só. Estava calor e eu decidi ficar sem camiseta o dia todo. Meu peito estava suado e latejando, pois pela manhã eu movi uns troncos e carpi um lote para os garotos lá nos campos de morango. Peguei um pano para limpar o suor do rosto e fui até a recepção. Quando meus olhos notaram quem era, meu coração disparou e um sorriso caloroso (daqueles que fazem o inverno ir embora e florescer toda a terra em flores mais cedo que o normal) se formou em meu rosto. Avancei pelo balcão ignorando tudo e qualquer coisa que o menino poderia dizer, apoiando meu tronco pelo mesmo, alcançando seus lábios com os meus. Dei um selinho demorado, ou um beijo curto e romântico no cliente e me afastei um tanto, mas ainda o olhava iluminado - Que bela surpresa Kyle - falei num tom feliz.

Não era sempre que ele vinha aqui. Acho que meu mundo natural o afeta negativamente, já que ele é dado a tecnologia e tal - Veio me ver, ou quer algo especial? - perguntei apaixonado sem tirar meus olhos de seu rostinho lindo e sapeca. A pulseira que eu lhe dera ainda florescia em seu pulso. Fiquei mais feliz ainda quando o vi usando. Até fiquei sem graça pois eu não tinha nenhum presente dele para usar. Mordi os lábios e apoiei meu queixo em minhas mãos, colocando meus cotovelos no balcão. Kyle me deixa tão bobo... Nem sei explicar como me sinto dirito. Só sei que é bom ^^

Roubar. Kyle tinha uma vida de crimes que eu não sabia até então, mas eu não quis perguntar nada pois vai que ele me roubou outras vezes... Seria estranho ter minhas coisas roubadas. Se bem que uma das minhas cuecas preferidas sumiu. Cocei a nuca e tentei desviar os pensamentos. Agarrei o rostinho de Kye com uma das mãos, dedilhando sua bochecha até que meus dedos segurassem seu queixo de hominho. Dei uma boa olhada nele e aproximei meu rosto ao dele, para que nossos narizes se encontrassem. Aproximei meus lábios da oca do meu querido e - Quer ver o que tem lá trás? - perguntei à centímetros de sua boca e depois me afastei, bagunçando seus cabelos aloirados.

Fora isso, o cheiro da minha loja parecia muito forte para Kyle. Tentei amenizar com um cheiro que meu pequeno preferiria. Toquei os vasinhos do balcão e troquei as flores que ali estavam por flores de baunilha, deixando o ambiente com cheirinho de sorvete de creme. Peguei uma toalha branca, com meu nome bordado, numa das gavetas do balcão e joguei de leve no meu ladrãozinho - Desce desse balcão e me seca... Tê meio carente desse teu abraço - falei rindo, meio que cantarolando o final. Fiquei de costas para que ele começasse por elas. Adoro quando ele passa a mão em mim. Me faz bem demais - Depois eu te mostro a cozinha experimental e a minha estufa - comentei por fim. Tenho flores lindas lá atrás e uma fruta que inventei por acaso com gosto de bolo.

Kyle é bobo mesmo. Como ele foi capas de comer flor de baunilha? Ele tinha que comer a semente da mesma. Essa sim tem gosto de creme. Depois eu mostro pra ele como faz. Ele enxugara meu braço e eu senti um arrepio gostoso. Me virei para que ele passasse a toalha pelo meu corpo malhado. Cutuquei meu peito, querendo que ele enxugasse com carinho a área. Ignorei a pergunta dele, já que ele não era preciso responder. Eu tomo banho, eu juro, mas não quero tomar agora, pois eu ainda tenho muito trabalho para fazer - Continua me secando Kyle... quero te mostrar uma coisa depois - comentei com um sorriso misterioso no rosto.

Enquanto ele me enxugava, notei que seus olhinhos brilhavam com um pensamento distante. Acho que ele devia estar pensando num novo videogame ou aplicativo ou sei lá. Tecnologia e coisas novas não são o meu forte ou interesse. Claro que eu fico abismado com algumas coisas que ele me mostra, mas nem tudo. Assim que ele acabou de me enxugar, coloquei a toalha nos ombros e agarrei a mão do garoto, o levando até a minha estufa particular.

Era quente lá dentro e havia várias fileiras de terra e em cada punhado de terra, flores diferentes e coloridas. Borboletas de todas as cores voavam de um lado para outro, colorindo o céu da minha estufa particular. Havia uma raflésia bem fedida e cheia de moscas ao redor, mas isso era o menor nos problemas. Depois do jardim de rosas brancas, passando pelas papoulas de Hipnos e algumas espadas de são Jorge, havia uma unica planta, um arbusto na verdade, cheia de frutos coloridos. Ela estava sozinha num bloco de terra. Apontei o arbusto e baguncei os cabelos de Kye - Gosta de surpresas? Prova aquelas frutinhas ali.... - acho que ele vai gostar, pois cada frutinha daquela tem um gosto diferente. Bolo, panqueca, mel, sorvete, chocolate, mouse, torta de limão... tudo depende de quem prova - Eu acho que você vai gosta... - comentei cruzando os braços.

Finalmente fiz alguma coisa que ele gostara de verdade. Olhei ele se deliciar dos frutos da árvore com um sorriso de deleite no rosto. Ele até queria comer as folhas, mas eu tive que impedi-lo. O peguei pela barriga e o joguei por cima dos ombros. Lhe dei dois tapinhas bobos e sem força em sua bunda GG e gargalhei - Não pode coma as folhas e pare de comer todos os frutos... tem mais coisas pra te mostrar - falei caminhando por uma alameda de flores risonhas, um pé de flamboaiã e algumas primaveras. Havia um caminho de pétalas rosadas que nos levavam até um poço.

Coloquei Kyle no chão e sugeri que ele tirasse os tênis, da mesma forma como eu tirei os chinelos. A grama ao redor do poço era especial, pois parecia algodão quando se pisava em cima e, Kyle não poderia perder por nada a sensação de pisar nessa panta - Vamos descer esse poço... tem algo que quero te mostrar.... - ou dar, depende da interpretação. O fato era que falei com um quê de mistério. Sentei na borda do poço e mostrei a escada de madeira que dava para o fundo do buraco. A água não era muito funda, pois eu criei um sistema que não deixava o poço transbordar. Hoje por exemplo eu o esvaziei para mostrar ao meu princesinho meu esconderijo.

Tagarela. Kyle falava pelos cotovelos e eu adorava ouvir a voz de sininho dele. Bom, pra mim parece sino, mas pode ser que eu não escute direito. Desci os degraus até chegar quase lá em baixo e reforcei a madeira para que Kyle descesse em segurança - Quando você descer eu te mostro - afirmei. O poço não era muito grande, mas cabia duas pessoas e uma porta. Havia um balde lá em baixo, suspenso por uma corda que dava até em cima. A porta era de madeira com uma maçaneta de ferro escura. Depois dessa porta, há um caminho de plantas carnívoras fofas que dão a um jardim de cactos. Nessa jardim, meu dragão, Doton, faz morada. Não sei o porque ele adora esse jardim de cactos, mas enfim... O importante é que  logo depois, num quartinho fica uma das minhas melhores criações e era isso que eu ia mostrar a ele, depois de lhe mostrar outras coisas pelo caminho - Desce Logo!!

O que eu ia lhe mostrar não era lá grande coisa, mas ainda faltava um pouquinho para lhe dar o que eu pretendia dar. Enfim, Doton estava dormindo profundamente e isso me aliviou. Se ele estivesse acordado, com certeza Kyle estaria todo babado e cheio de lama agora. Não sei porque, mas ele, meu dragão, adorava esse moleque. Acho que Doton gosta mais de Kye do que me mim. Arregalei os olhos e dei de ombros sozinho com meus pensamentos. Espero que o filho de Hermes não me ache mais louco do que eu já sou. Arrumei meu shorts que estava caindo e conduzi meu príncipe até uma porta alta de madeira maciça com uma rosa entalhada na mesma. Toquei o ombro do meu garoto, o impedindo de prosseguir. Depois dessa porta há uma última "defesa" antes da coisa que eu quero mostrar para ele.

Encostei minhas costas contra a grande porta e já pude sentir as vozes do outro lado. Kyle talvez fique chateado, ou irritado comigo, mas eu plantei o que tem do outro lado, para manter pessoas com o psicológico fraco, longe daqui. Tomei o rosto dele nas mãos e o beijei devagar, sentindo as nuances de sua boca na minha - Sabe, depois desse comodo, tem algo que quero te mostrar, mas você precisa ser forte o bastante para ser xingado e humilhado - comentei com o semblante triste - Aqui fica meu orquidário, mas não são flores comuns... elas se chamam Orquidias LAL, ou Love A Lot - entortei os lábios e passei a mão pelo braço de Ky até segurar em sua mão - Elas são flores que amam seu jardineiro e odeiam todo o resto. Ou seja, sempre que eu estou com elas, mentalmente recebo elogios e juras de amor, mas quando um intruso caminha entre elas, minhas orquídeas são impiedosas... - não quis dizer, mas elas ao invés de telepaticamente cantarem juras, elas ofendem muito, revelando segredos ruins e coisas do passado que a muito tempo já não faziam parte do carácter de alguém. Baguncei os cabelos do meu Kyle e abri as portas do "Inferno".

Lá dentro, as orquídeas eram brancas rajadas com a cor preferida de Ky, laranja. Elas invadiam minha mente com todo tipo de elogios, desde "Oi lindo", "Como você é forte" e "Me rega hoje" até coisas tipo "Cuida de mim pra sempre", "Me ama, Alba, Me ama" e "Nos deseje hoje senhor Jardineiro, faça amor conosco". É, elas pegam pesado nos elogios, mas eu até que gosto. Tem até uma ou outra que diz coisas picantes, mas deixa pra lá. Pelo caminho até corei. Eu não sabia o que Kyle escutaria, mas tinha uma noção do que elas poderiam estar comentando. Só tem uma maneira de se livrar dos comentários ofensivos: Depois de ser malhado com ofensas tipo "Ele não é pra você" ou sei lá "Ele é nosso", Se Kyle me amar mais do que essas flores criadas diretamente por mim, elas se silenciam.  Eu não ia contar sobre isso, pois eu queria ter certeza de algo - Não dê ouvido à elas Kyle.... olhe só pra mim - disse com um sorriso.

Depois de alguns minutos caminhando, logo a frente estava um portão gradado, e depois dele, o que eu tanto queria mostrar para meu amor. Meu Kyle. Encostei no portão e aguardei Kyle me alcançar.

Fiquei aliviado quando Kyle comentou que não escutou/aconteceu nada e que achou o lugar bem sem graça. Pelo menos uma das orquídeas me chamou pra sair qualquer dia desses. Abri o portão gradado, vendando os olhos do meu batedor de carteira - Feche os olhos - comentei. Talvez ele não goste do que eu vá mostrar, mas esse é um lugar especial pra mim. O peguei pela mão e o conduzi até uma sala redonda com paredes de tijolinhos. Era como se fosse um outro poço, só que maior, bem maior. Acho que era um buraco no meio de um rio, pois água descia pelas paredes e corriam por ranhuras no chão até o centro formando um laguinho. De lá, subia uma arvore com um tronco grosso e escuro. Lá em cima, dava para ver a floresta do acampamento e o céu azul. A copa dessa arvore era constituída por folhas do tamanho da minha mão e tão verdes quanto o seio de uma mata. A luz do Sol cortava por entre as folhas, iluminando o poço com feixes de luz. Era um lugar lindo e as borboletas voavam de um lado para outro. Eram borboletas negras com detalhes em rosa. Muito belas - Pode abrir.... - disse na esperança dele gostar. Tinha mais uma surpresa, mas preciso ver a reação dele primeiro. Meus olhos se encheram de esperança e eu mordi os lábios de forma curiosa - Hm.... e ai, gostou......? - ele odiava minhas plantas e tudo quando eu fazia, mas eu ainda tenho esperança de que ele mude um ou outro conceito.

Ele ficou maravilhado com o lugar e já planejava redecorar essa maravilha natural em algo destrutivo com sua tecnologia. Eu fiquei meio chateado, mas tentei esconder minha decepção com o meu melhor sorriso. Sabe, aqueles sorrisos tão belos e sinceros que fazem qualquer um crer em suas "felicidades". Cocei a nuca e balancei a cabeça num "sim" tímido. Essa era a surpresa, ou o local perfeito para fazer um pedido formal - Desculpa se você não gostou Kyle.... - afirmei por fim, mas sem deixar transparecer meus reais sentimentos. Baguncei os cabelos de Kyle e lhe dei um beijo na bochecha. Caminhei até a arvore e passei a mão pelo tronco, pegando uma coisa por debaixo da lignina. Era um aro de madeira trançada, feito por mim com um dos galhos dessa árvore. Kyle deve não saber, mas essa árvore faz parte de um dos ramos da famosa Yggdrasil. Suas folhas podem trazer de volta a vida e sua madeira é tão resistente que dura pra sempre. Joguei o anel pra cima - Bom.... isso também não te impressionaria.... - falei jogando o anel no ar, lançando para Kyle - Queria te fazer um pedido formal de casamento... mas parece que aqui não foi o melhor lugar pra fazer isso né? - falei com um sorriso apoiando minhas costas na árvore, afundando meus pés na água cristalina que corria das paredes até o centro do poço. O anel de noivado tinha um poder especial, mas no momento não era relevante.

Era pra ser o pedido perfeito se ele não estragasse tudo, mas enfim, só de vê-lo comovido já me bastou. Sabe, eu o guiei por um jardim de flores e borboletas, o fiz comer do meu arbusto de confeiteiro, o levei até meu esconderijo e o trouxe aqui, no meu santuário particular com essa arvore linda plantada nessa união de águas. Dei de ombros e caminhei até meu garotinho. Agarrei seu rostinho choroso e aos pouquinhos avancei meu rosto ao dele selando suas lágrimas com um beijo terno e suave. O abracei de forma envolvente com meu tronco nu, sem aperta-lo, colando meus lábios em sua orelha - E ai... não ouvi uma resposta.... - sussurrei carinhoso. Me afastei um pouco e arrumei uma mexa de seus cabelos, colocando-a detrás de sua orelha. Abri um sorriso torto e mordi os lábios de forma curiosa.