Floresta - Local Publico

 
Ruborizo quando ouço essas ultimas palavras. Arthur tem gostos opostos aos meus, gosto da tranquilidade daqui, já ele gosta da movimentação das capitais. Penso no que responder, já que não estou acostumada a ser flertada por garotos bonitos.
-Bom, meu namorado deve estar em algum lugar bem longe daqui, porque eu nunca o encontrei- fixo o olhar no sorriso de Arthur, esperando que ele entenda que estou solteira. E com certeza sou horrível em flertar de volta, então nem tento, apenas observo seus dedos remexendo a folhagem opaca que se espalha pela grama- e obrigada pelo elogio- digo, me sentindo estúpida –não tinha coisa melhor a dizer, America?- e me sinto mal por ter fugido de todos os garotos na escola que tentaram se aproximar de mim, porque agora nem ao menos sei conversar com garotos. Respiro fundo e rezo para que ele não me ache idiota, sendo que eu mesma estou me sentindo fútil em pensar assim  

 
Aquele garoto sabe exatamente o que dizer pra me deixar envergonhada. Ele tem lábia, e também é um tanto quanto ousado. Suas palavras me causam arrepios e seu toque envia correntes elétricas por todo meu corpo. Ele deve ter percebido que fiquei nervosa, pois logo se afastou e desviou o olhar. Mas eu continuei o olhando. Nunca agiam assim comigo, e eu nunca entendi o porquê. Uma vez um garoto me disse que eu parecia uma boneca de porcelana, e receava me tocar e eu cair em pedaços, mas não quero que me vejam assim.
Arthur tem mania de arquear a sobrancelha, e eu adoro isso. Não sei o que dizer, então tento mudar de assunto.
-Como era a sua vida? Digo, antes de vir para cá e enfiarem na sua cabeça que deuses existem e fazer você duvidar sobre tudo o que sabe da humanidade?- me repreendi por dizer isso, pois tenho o costume de falar demais, e falar sobre assuntos completamente desinteressantes para os outros, a não ser para mim mesma. Respiro fundo e percebo minhas mãos trêmulas, seguro o livro com força, para que ele não perceba que estou nervosa

 
Quando Arthur conta sua história, tento esconder que estou surpresa. Ele não faz o tipo festeiro, pelo menos não visualmente. E há algo nele, talvez o modo como morde os lábios, ou o fato de sempre arquear a sobrancelha, que me faz querer saber mais dele, me aproximar e me envolver. Então me concentro e conto minha história.
-Bem, sempre morei sozinha com a minha mãe, ela é uma pessoa triste e tento fazer de tudo para compensar a falta que ela sente do meu pai. Na escola eu tinha várias “amigas”, mas sempre me senti sozinha- aposto que agora as garotas com quem eu andava nem sentem minha falta, elas são do tipo populares malvadas- me esforçava bastante para tirar nota boa e despistar o déficit de atenção, e funcionou bem. Não gostava muito de onde morava, era muito barulho o dia todo, e a casa era muito grande para apenas duas pessoas. O que me fez permanecer lá esse tempo todo foi minha mãe, até que ela me contou sobre meu pai e me enviou para cá. Vida monótona, nada de interessante.
Deixo minha história pairando no ar, enquanto o leve aroma de morangos frescos preenche meu olfato.
Não iria lhe contar sobre minhas crises, pelo menos não agora.

 
Como eu pensei, o garoto é bem ousado. E não, não estou reclamando.
Antes que eu pudesse processar, senti sua respiração e seus lábios levemente se encaixando nos meus. Foi rápido, mas as ondas elétricas não perderam tempo ao atravessar meu corpo. Eu o adorei ainda mais por ter feito isso. Claro que eu não esperava, acho que nem ele havia pensado ao agir, mas uma eletricidade repentina tomou conta de mim. Meu corpo implorava por mais, porém Arthur já havia se afastado, evitando me olhar. Seu pedido de desculpa me fez suspirar, e eu simplesmente peguei meu livro e levantei. O vestido florido sendo carregado pelo vento, como se quisesse dançar livremente, se desprender de mim. Queria correr, mas apenas caminhei tentando não perder o equilíbrio. Não olhei para trás, pois sei que se olhasse eu voltaria e mataria meu desejo.

 
Ta legal, no começo eu demorei pra acreditar, depois eu percebi que realmente estava acontecendo. Sim, eu esperava que ele fosse atrás de mim, mas não esperava que ele fosse tão direto como foi.
Agora eu estava de costas para uma árvore, na floresta da minha nova casa, grudada com um garoto lindo que acabei de conhecer, e eu simplesmente queria sair correndo dali. Quase me bati por pensar assim, aquilo era maravilhoso, seu beijo sereno e intenso, suas mãos sobre minha cintura. Eu agarrei sua nuca e entrelacei meus dedos em seus cabelos castanhos. Podia sentir toda a energia do meu corpo fluir e transbordar. Então me afastei para recuperar o fôlego. Ele estava me encarando como se tivesse feito algo de errado, e eu apenas sorri para ele e apertei sua nuca, dei-lhe um breve beijo e o abracei. Fechei os olhos e fiquei ali, nos braços de um desconhecido.

 

Ele deve saber que quando arqueia a sobrancelha eu me derreto, pois não para de fazer isso.
 E eu congelei com sua proposta, até porque esse era um jeito bem convencional de acelerar as relações, mas eu não poderia ceder assim. Lembro quando em uma das minhas crises um garoto me levou para o quarto dele e tentou me assediar, e isso com certeza mexeu comigo.
Eu não queria afastar o Arthur, e nem ficar me fazendo de difícil, só queria cada coisa em seu tempo, então forcei um sorriso e repousei minhas mãos em seu abdômen.
-Apressadinho ein- tentei parecer brincalhona, temo que não deu certo- desculpa, mas, pode ser outro dia? É que eu ainda não sei se vou ficar aqui o ano todo e não quero me envolver.
Olhei para as minhas mãos em seu corpo, as soltei e me afastei. Dei-lhe um beijo e sai correndo, torcendo para que ele não me impedisse.