Escadaria da Aurora - Missão para Apple O. Cletto - Ártico/Canadá

Mas o qué?!

Ela estava no papo. Parecia focada somente em mim. Isso fazia de certa forma bem para o ego. Mas eu ainda era da minha Mellody.

Esqueci completamente a outra mulher. Só lembrei-me dela no momento em que ela segurou meu ombro esquerdo com uma força brutal e nada feminina. Fui forçado a me virar para ela. Controlei uma careta de dor ao sentir os dedos dela apertando meus ossos.

Por que ela era tão forte? Por que a “magia” não havia funcionado com ela? Droga meu encanto havia terminado para a outra mulher. Ela olhou confusa para a mulher mão-de-aço que me puxava para longe.

- Venha comigo. Está detido por tentar seduzir uma funcionária a fim de invadir um vôo para o qual não tem passagem.

As coisas ficaram muito estranhas. Com a outra mão a mulher puxou do meu bolso a passagem. A outra mulher não podia ver por causa do ângulo em que estávamos. A mão da mulher mão-de-aço passou a mudar de cor. O branco se transformava em cinza e pelos negros e brancos nasciam, formando listras. Suas unhas cresciam pretas e afiadas. Em segundos a minha passagem foi estraçalhada pela mão monstro. Com um sorriso sínico e uma mão que me puxava disse:

- Você não está registrado nesse vôo. Acompanhe-me até a sala dos seguir...

A voz da mulher foi interrompida por um grito. Alto o bastante para ser escutado fora da sala de embarque. Uma garota e um garoto olhavam para mim e para a mulher. O garoto usava uma blusa lisa rosa e uma calça colada... Skinny era o nome. Metade de seu corpo estava fora do portão de embarque. O garoto era mais baixo que o normal, magro, embora tivesse uma barba rala. Seu cabelo castanho claro, quase loiro, era grande, bagunçado em estilo emo. A garota atrás dele, usava uma blusa de manga longa roxa e jeans negro. De cabelos castanhos que lhe moldavam o rosto pálido e serio e belo.

A voz do garoto soou irritada e apressada:

- Apple, eu te disse para não se distrair demais pelo aeroporto. Já estamos todos aqui te esperando, quer fazer o favor de vir logo? – Ele olhou para a funcionária a meu lado - Ele está com a gente, se perdeu no caminho. Eu to com o registro da compra das nossas passagens e da dele bem aqui - Ele mostrou a passagem e a mulher balançou a cabeça afirmativamente. O garoto me chamou com a mão. - Além disso, tenho certeza de que ele está com a passagem dele no bolso, certo Apple? Deixem-no entrar, por favor.

Realmente a passagem estava de volta. Ok. É oficial, nada mais faz sentido, ainda mais quando se é meio sangue. A mulher que me apertava o ombro olhou incrédula pra passagem que eu tirava do bolso. Seus olhos se fixaram nos restos da antiga na mão dela. Assim que ela me soltou, dei as costas e caminhei rápido até os meu salvadores. Disse pelo olhar “Obrigado. Quem são vocês?”.

Eu não gosto de passarinhos!

Eles foram à frente e me esperaram dentro do portão de embarque. Notei um sorriso vindo do garoto, já a garota continuava de braços cruzados e séria. Recém havia passado do portão e o garoto de blusa rosa desatou a falar todo empolgado. Só acho que falar é uma espécie de hobbie pra ele.

- Antes de tudo, de nada por salvar sua pele. Meu nome é Casey, o sobrenome não posso dizer. Essa é minha amiga Elsie. – Não vou falar nada sobre ele ter um nome feminino. Se bem que Apple não é lá muito normal também... Que seja. A garota me olhou sorrindo e acenou rapidamente enquanto caminhávamos pelo corredor que ligava o lugar ao avião. - Somos como você, meio-sangues que vagam o mundo em busca de aventuras, porém em um grupo. Somos conhecidos como os Exilados. Estamos aqui, acredite ou não, para lhe ajudar em sua missão e, de quebra, pagar uma dívida que temos com um velho amigo nosso. - Assenti com a cabeça. Ele tirou ama mecha loira que lhe caia nos olhos e voltou a falar. Ao contrario de Casey, Elsie não falava nada. Será que ela era muda? Afastei o pensamento. - Então, quer saber como eu fiz aquele truque do comprovante de pagamento e das passagens, certo? Bem, eu manipulo a luz muito bem e sei criar ilusões, além disso...

Aquele cara não tinha câimbra facial? Ele sorria de mais, o que era meio assustador. Um barulho abafado o interrompeu. O teto do corredor foi quebrado, e no buraco estava à funcionária mão de ferro. Seus olhos estavam totalmente vermelhos e um sorriso estampava seu rosto. Imagino que meu rosto estivesse mais branco que o normal, de olhos arregalados e boca aberta.

Quanto mais a mulher andava, mais mudava de cor e rasgava suas próprias roupas. Os sapatos rasgaram, dando lugar a uma coisa hibrida de garras de pássaro com pés humanos. Muito nojento. Os braços cresciam e se transformavam em asas com garras afiadas. O rosto mudava para algo grotesco. A pele da mandíbula rasgava o que deixou um forte cheiro de sangue podre.

Admito que estava com certo medo, certo, com medo. A voz do alegre Casey tornou-se séria.

- Elsie, arrume um modo de atrasar o vôo e avise aos meninos que temos companhia. Apple, hora de alguma diversão.

Sem falar nada olhei pelo canto do olho pra ele. O que ele fez foi meio estranho: abriu as mãos (dedos retos e juntos), similar a uma seta, pelo corpo do garoto percorreu uma luz multicolor intensa. Piscava do vermelho ao violeta muito rápido, isso me dava à impressão de que tomava a forma de duas lâminas, uma em cada mão. Ele tomou uma posição de defesa. A mulher-monstro-mão-de-ferro grunhia e vinha em nossa direção vagarosamente.

- Meio-sangues! Eu sabia! VOU DEVORAR CADA MEMBRO DOS SEUS CORPOS E ROER OS OSSOS ATÉ SUMIREM!

Enquanto ela gritava, eu acionava o anel com as fases da lua entalhadas. O puxei do dedo e em milésimos o anel se transformava em uma espada de um metro e dez centímetros de prata lunar.

- Casey, galinhas não voam sem asas e nem piam de pescoço quebrado... – Sussurrei para ele. Esperei que ele entendesse minha estratégia feita na hora. Minha voz havia soado meio psicopata, meu rosto já não estava mais tão assustado, e sim determinado a matar uma mulher passarinho ou galinha. Tanto faz. Pensando bem... Talvez fosse melhor usar duas espadas. Em medida desesperada, coloquei a mão na tatuagem tribal de água, talvez não desse certo, mas sussurrei em tom de ordem “Sombra Caminhante, te chamo!” e fiz um movimento de quem pega o cabo de uma espada e o puxei para fora do meu braço. Caso desse certo ou não, ficaria em posição de defesa. É sempre melhor esperar para ver o primeiro ataque e tentar descobrir as fraquezas do inimigo.

Eu não gosto de passarinhos!

Graças à lua, Casey entendeu o recado. Seus pés brilhavam com aquela luz estranha. Mas adivinhe só? Minha tentativa foi frustrada. Bufei de raiva. As inscrições da tatuagem só brilharam em um roxo intenso e se apagou logo em seguida. Talvez me avisasse algo?
DROGA! Vou ter que lutar sem a Sombra Caminhante. Bufei de raiva e levantei os olhos com raiva para a Harpia, que se aproximava cada vez mais. Olhei para Casey e o vi piscar e então sumir, deixando um rastro da luz multicolor pra trás.

- Para cima! Apple!

Escutei ele gritar e então segundos depois estava nas costas da Harpia, cravando as lâminas nas costas da mesma. Uma em cada junção das asas com o tórax. Continuei parado avaliando o que poderia fazer. A Harpia se contorcia, jogando Casey de um lado para o outro. Em uma espécie de touro mecânico em formato de Harpia. Meus olhos cruzaram com os dele e entendi o recado como “Uma ajuda agora caia bem”. Ele se segurava com força, talvez por pouco tempo.

- Cuidado! - Transmiti o aviso pelo olhar para ele. Automaticamente, toquei a Pulseira Lunar, que na verdade era uma pulseira feita de diamantes com um pingente de lua minguante. Em milésimos a pulseira se transformou em um escudo de prata com as fases da lua entalhado, o tirei do braço e corri, avançando na direção da Harpia. Virei o tronco para o lado direito e usei uma espécie de alavanca para arremessar o escudo. Esperando realmente acertar em uma das asas ou quem sabe com sorte o tronco da Harpia. Apertei com mais força o cabo da D’Moon e tentei achar um modo de acertar o rosto, tronco ou asas da Harpia. Mesmo ela estando mais pra cima.

Funciona! Funciona! Funciona!

A espada deslizou para dentro do estomago e do peito da mulher passarinho. Nessas duas vezes em que a espada cravou nela, sangue jorrou nas paredes e no chão, pintando-as em vermelho muito escuro.

Não me dei conta do erro que havia cometido. Agora eu genialmente estava sem o escudo, com uma harpia que me olhava raivosa. Pra variar a ficha havia caído tarde de mais.

A desgraçada deu um salto alto, e produziu um barulho muito grotesco. Identifiquei algo como piado de ave e grito de agonia de mulher velha. Senti um arrepio percorrer minha nuca e levantar os pelos da mesma. Senti a dor do Casey ao levar a pancada contra o teto. Mas isso passou rapidinho quando vi a Harpia vindo em minha direção muito rapidamente.

Grunhi em dor ao sentir minhas costas batendo contra o chão e as garras dela cravarem no meu braço esquerdo. Quer saber de uma coisa? Aquilo doeu... MUITO! Senti-me aliviado, mesmo ainda com dor quando o monstro saiu de cima de mim. Porém, a falei tantos nomes feios, que não vale a pena repetir aqui, quando Casey veio voando pra cima de mim. Fomos os dois para o chão.

- Desgraçada... – Disse revoltado e com dor. Sentei no chão e observei a Harpia. Ela nos encarava parada a uns passos de distancia. Com sorte estava cansada, dolorida e muitas coisas, mas seus olhos demonstravam sua raiva.

Armas... Preciso de armas... Sombra Caminhante preciso de você... Seus tentáculos seriam muito úteis agora... Arregalei os olhos. Sombra... Caminhante. A sombra que caminha comigo! Olhei para Casey, sentado também, suas costas produziam sombra! Idéias me surgiam. Levantei e puxei meu mais novo amigo junto. Segurei a ponta da lâmina e tentei arremessar na Harpia, mirando em seu peito já cortado. Rapidamente estiquei o braço pra as costas do Casey, nas sombras, e imaginei a Sombra Caminhante se expandindo e se transformando em uma espada.
Olhei para meu escudo mais longe e depois para Casey, em uma mensagem de “Se protege”, caso de certo a extração da Sombra Caminhante, tento atacar a Harpia com as sombras - tentáculo.

Caso não de certo a extração, corro na direção da Harpia, tento pegar a D’moon e dar um carrinho nas patas do monstro.

Bem do tipo foda

A Harpia se chocou contra a parede meio tonta. E eu senti minha mão em chamas. Abaixei os olhos para vê-la e não vi como não arregalar os olhos. Uma espécie de fogo que variava entre roxo ao negro crepitava pelo meu braço. Eu sentia e via o punho da espada. Finalmente a espada estava completa. Com suas inscrições e tudo que tinha direito. Brandi a espada e logo alguns tentáculos de sombra saíram dela. Cinco cordas negras que balançavam como sombras em movimentos e agarraram a Harpia. Asas, pernas e o pescoço estavam imobilizados.

De olho esbugalhados que corriam de um lado para o outro que pareciam pedir por piedade. Eu seria um psicopata por achar graça da cena? Sabia que meus olhos brilhavam em certa psicose. Uma mão tocou meu ombro e me tirou da espécie de transe na qual me encontrava. Um sorriso sapeca estava nos lábios dele e sua voz saiu baixa disse:

- Sabia que tinha algo diferente em você. Vamos acabar com isso e nos juntar logo aos outros.

Quando Casey levantou o braço para tirar as lâminas coloridas, eu consegui ver uma pulseira feita de madeira, ligada por um cordão simples de fibra. O estranho era que a madeira brilhava nas mesmas sete cores que o garoto. Com uma investida rápida o garoto da camisa rosa avançou, deixando novamente seu rastro brilhante. Levantei os olhos e vi as lâminas cravarem no peito da Harpia, formando um “x” com os braços. Não consegui ver direito o que aconteceu por causa do ângulo em que estava, mas as lâminas viraram dois martelos cintilantes. Meus olhos o seguiam atentos. O direito foi direto no estomago da criatura e o esquerdo o peitoral, por fim ele chutou o queixo do monstro com uma força incrível, que também deixou o rastro arco-íris. A Harpia caiu pra trás, com os olhos vazios e sangue escorrendo pelos cantos da boca.

Como um lampejo, os tentáculos da Sombra Caminhante, voltaram a seu formato de tatuagem. Acariciei a mesma em agradecimento e levantei os olho para Casey, que voltou a falar ou discursar? Não sei se ele sabia a diferença.

- Venha, me siga, vamos encontrar Elsie e os outros. Eles vão adorar te conhecer, acredite em mim. Ah, sim, antes disso, algo que queira perguntar ou que eu esclareça? Sei lá, de quem somos filhos, por que vagamos por aí, vai por mim, temos muito tempo.

Cocei o queixo e o segui. Esfreguei o rosto e suspirei aliviado. Eu precisava saber algumas coisas. Cocei novamente a lateral do rosto e por fim comecei a falar:

- Obrigado pela ajuda. E na verdade Casey, eu quero saber cinco coisas primeiramente. – Estiquei a mão para frente, levantei um dedo – Como me encontraram?

Levantei outro dedo, sobre Casey já tinha minha suspeita, mas mesmo assim perguntei:

– São filhos de quem? – Com mais dois dedos para cima – Por que me ajudaram e por que não estão no Acampamento? - O mirei pelo canto dos olhos, enfiei as mãos nos ombros e perguntei por fim com um sorriso amistoso nos lábio. – Só eu estou com fome?

Hey guys \o

Casey ficou em silêncio enquanto eu falava, mantinha um sorriso, porém nas três ultimas o sorriso desapareceu. Mas o garoto da camisa rosa riu da ultima pergunta que fiz. Chamou-me com o dedo e eu o segui para dentro do avião. Eu realmente estava começando a ficar irritado com esse silêncio do cara. Não era o fato de não responder as perguntas e sim o fato dele estar calado, chegava a ser agonizante. Quando chegamos à porta do avião, minha expressão se tornou levemente confusa. A moça nos encarava com um sorriso paralisado e olhos vazios. Se ela não tivesse se movido para abrir a porta, eu realmente podia jurar que era um manequim.

- Bem, como o encontramos não é tão fácil de explicar, nem eu entendo direito como funciona. Digamos apenas que um de nossos amigos, Dex, tem habilidades bem úteis. Não só ele olhe ao redor. - Finalmente Casey voltou a falar o que era meio aliviador. Levantei os olhos para onde ele havia apontado. Todos os passageiros estavam como a aeromoça: estáticos, aquilo era realmente meio assustador.

Mais a frente, naquela parte mais atrás do avião, consegui identificar três figuras. Uma delas era Elsie, que tinha nas mãos uma espécie de caixa protetora de violão pequena, seria um violino? A seu lado estava um garoto de camisa vermelha e cabelos negros que iam até o ombro, possuía também uma barba por fazer, assim como a minha. Do lado direito, deitado em três cadeiras e com um chapéu de cartona curto na cara estava um garoto, que dormia sossegado, mas levantou quando chegamos perto.

- Apple, você já conhece Elsie. Esses são Rob, de vermelho, e Dex, com o chapéu. Nós seremos sua nova equipe para essa missão. – Disse Casey no mesmo tom sério. Acenei rapidamente para eles e sussurrei um “olá caras”.

- Eu já havia falado com Casey e os outros antes, Apple, de que precisaríamos dar algumas explicações para você. Todos concordaram. Se me permite, tirarei suas dúvidas. – Quem falou dessa vez foi o garoto de vermelho, Rob. Que se sentou no braço de uma das cadeiras. Confirmei com a cabeça e cruzei os braços na frente do peito.

- Estamos todos aqui a pedido de certa deusa. Para falar a verdade, sua mãe. Selene nos foi muito gentil em uma de nossas, bem, "encrencas", e devíamos esse favor a ela. Somos todos filhos de olimpianos dos quais preferimos nos esquecer, já que somos todos renegados. Nossas mães e pais divinos abdicaram de nós por vários motivos. Por isso nós não vivemos mais no seu Acampamento e, por isso, nos auto-intitularmos os "exilados". Todos fomos, então, adotados por um deus, mas ainda impedidos de entrar no Acampamento.

Levantei a sobrancelha direita ao escutar o nome de minha mãe. Mas continuei em silêncio, enquanto absorvia tudo. Rob assistiu com a cabeça para Elsie que logo se levantou e abriu a caixa. Eu havia acertado, ali havia um violino roxo. Um pequeno sorriso divertido brotou nos meus lábios ao ver que o palito era uma espada afiada, o metal refletia com força a luz artificial do avião. Então a garota começou a falar, complementando seu amigo:

- Orfeu me adotou depois que minha mãe me abandonou. O mesmo para Casey, por quem Íris sentiu piedade. Rob achou um novo pai, Hefesto, e Dex uma nova mãe, Psiquê. Todos, assim, fomos abençoados com auras e objetos que nos dão certos poderes, mas não são genéticos como os que um dia tivemos como os que você tem.

Então vejamos: Casey, foi adotado por Írs, como havia pensado antes, isso explicava seu rastro luminoso e multicolor. Rob por Hefesto, Dex por Psiquê e Elsie por Orfeu. Assenti com a cabeça e fiquei ligeiramente hipnotizado pela melodia delicada que a garota tocava. Era a música mais... Bela que eu já havia escutado na vida. Então as coisas passaram a fazer sentido: Elsie era uma manipuladora de fantoches. Um sorriso de admiração brotou nos meus lábios. Enquanto ela tocava, os passageiros levantaram-se e passaram a marchar para fora do avião. Precisei colocar a mão na frente da boca, contendo uma risada ao ver um cara saindo do banheiro com um rolo de papel higiênico nas mãos e de cinto desafivelado. Enquanto eles saiam, Dex cutucou meu ombro, virei minha atenção para ele

- Sinto que está com fome, garoto. A cozinha do avião está liberada, sinta-se a vontade. Ficaremos nós cinco apenas nesse avião, além do piloto e do co-piloto. Qualquer dúvida que tiver sobrado pode tirar enquanto come. – Gostei do sotaque europeu, o deixava simpático de certa forma.

Olhei para as portas de trás onde era a cozinha. Comemorei baixinho e pedi que me esperassem uns minutos. Corri até a cozinha e peguei uma garrafa com suco de maça, petiscos de avião, garrafas com água e suco e um sanduíche natural. Voltei para perto deles e os ofereci os petiscos e as garrafas de água para eles. A meu ver Casey também estaria com fome. Sentei em uma das poltronas e tomei um longo gole do suco, mordi o sanduíche e por fim falei:

- Bom, primeiramente quero agradecer pela ajuda. Segundo – Limpei a garganta e mordi novamente o sanduíche. Mastiguei e então falei com a mão na frente da boca – Elsie sua música foi linda, muito linda. Dex seu sotaque é bacana, eu curti ele. Rob sua desenvoltura ao falar é muito boa.

Eu olhava para cada um ao falar. Olhei para Casey e estendi a mão, meus olhos transmitiam gratidão.

- E Casey, você lutou muito bem lá. – O cumprimentei e disse antes de morder novamente aquele maravilhoso sanduíche – Eu não gosto muito de fala, prefiro ouvir. E gostaria de saber mais sobre vocês se não for pedir muito.

Tipo: UoU!!!

A garota ficou vermelha pelo elogio, mas ainda estava focada em sua música. Vi um rápido “obrigado”, sair dos lábios dela, que então voltou sua atenção aos passageiros. O último fechou a porta do avião. Pelo canto dos olhos vi Elsie guardar a espada na bainha, que estava na cintura, e o violino na caixa. Sentou-se ao lado de Casey e deitou a cabeça no ombro dele, devia realmente cansar aquela música. Vi o Dex sorrir para Casey e então falar.

- Sou da Suíça, obrigado. Rob é o nosso líder há algum tempo. Ele fala muito bem, mas prefere agir a conversar, nosso pequeno cabeça-quente.

Realmente imaginei que Rob fosse o líder. Ele possuía uma postura de certa forma imponente. Todos riram com o final da frase, incluindo Rob, que logo tratou de socar o ombro do amigo piadista, que ainda ria. No momento em que elogiei Casey, todos ficaram em silêncio. O garoto Arco-Íris apertou minha mão. Vi seus olhos brilharem de felicidade e sorri.

- Ah, muito obrigado, foi uma honra lutar ao seu lado, mas não me comparo aos outros aqui. Você é bem habilidoso também. Bem, não sabemos direito por onde começar nossa... Ahm... História, mas...

- Ah, eu sei muito bem. Elsie, minha cara, mande os pilotos levantarem o vôo. – Dex puxou um pouco o chapéu pra baixo, exatamente como os cavalheiros de filmes. A garota levantou e foi para a cabine. - Posso te contar algumas de nossas aventuras, se me permite, enquanto termina o seu lanche.

Como estava com a boca cheia. Estendi a mão em um pedido mudo de que ele o fizesse. Elsie voltou com um sorriso nos lábios quando viu que o amigo ia começar a contar as histórias. Tomei um gole do suco enquanto escutava a primeira história. Pelo que entendi era de umas semanas atrás. Eles haviam se intrometido na mansão das Gorgónas, irmã da Medusa. Haviam oferecido a eles dois mil reais para cada, por uma coleção de jóias que estava dentro da mansão.

- E o Casey ficou tão entretido vestindo a Elsie com uns vestidos antigos que havia na casa que só fomos começar a procurar mesmo depois do pôr do sol. Eu até disse para eles para voltarmos outro dia, mas ninguém queria mais sair. Rob mesmo estava com tanto medo que...
- EI! EU NÃO TENHO... Quer dizer... Não tenho medo do escuro!!! - Reprimi uma risada enquanto olhava para Rob. Meus olhos iam para cada um que falava.

- Claro que não, só de ficar sozinho nele. Eu te vi andando pra cima e pra baixo naquela casa quase agarrado na minha perna, choramingando. – Elsie tirou sarro.

- E então, do nada, apareceu à maldita da criatura, com aquelas cobras no cabelo e cauda gigante. Claro que a gente não ia entrar de peito aberto na coragem. O cara que nos deu a missão tinha dito que ela ia passar o dia todo fora, caçando. Mais uma vez, obrigado Casey. – Foi à vez de Dex.

- Olha, Elsie ficou muito bonita naqueles vestidos e, no fim, deu tudo certo! – Casey retrucou.

- Se não fosse eu partindo a maldita ao meio com minha espada enquanto a Elsie a distraía e vocês dois tiravam uma "soneca forçada" no chão.

Sorri com a história, devia ser divertido ser parte daquele grupo... Eles eram amigos de verdade. Seguimos noite adentro. Mal vi o tempo passar e já chegávamos perto do destino. Pelo rádio o piloto disse em uma voz quase robótica. Senti um desconforto com a voz dele. Mas voltei a prestar atenção na conversa animada. Bom isso antes de Rob falar usando um tom um tanto nostálgico:

- Hey, Elsie, lembra daquela vez quando o Will roubou um tanque de...

O sorriso da garota se desfez, assim como o de Casey. Dex balançou a cabeça negativamente, reprovando a fala de Rob e encarar a janela do avião. Minha visão se focou em Elsie, que coçou o olho, realmente senti vontade de confortá-la. Casey deu um sorriso amarelo e encarou as mãos que estavam em seu colo.

- É... Ele mandava muito bem... – Comentou meio baixo.

- Já estamos chegando ao local.... Todos peguem os seus pára-quedas e se segurem firme em qualquer canto. Quando a porta abrir, vai haver uma descompressão por algum tempo, então não sejam puxados para fora. – Rob disse em sua voz séria enquanto levantava da cadeira. O segui com o olhar enquanto abria um compartimento e tirou cinco mochilas marrons. Jogou uma pra mim que a peguei e a prendi nas costas.

Olhei para Elsie e apertei-lhe o ombro, sorri abertamente pela primeira vez e sussurrei:

- Você fica mais bonita sorrindo. – Virei o olhar para Casey e soquei-lhe de leve o ombro. – E você fica melhor falando e sorrindo.

Segurei-me em um dos apoios que tinham na parede ali perto. Meu coração começava a ficar acelerado. Olhei para Rob e com um sorriso leve de nervoso. Respirei fundo e perguntei:

- Vamos pular de pára-quedas? – Passei a língua nos lábios, tentando falar sem ter a voz tremida – Cara, você ta realizando um dos meus sonhos! Casa comigo!

Lembre-se idiota: Não morra!

Elsie e Casey sorriram e assentiram. A garota piscou como se dissesse: “Estou bem”. Casey me abraçou, tratei de dar tapinhas na tentativa de reconfortar o garoto. Tão rapidamente quanto meu abraço ele se afastou para se segurar em algo. Meu coração ia acelerando, igual a como fazia quando eu estava na subida da montanha russa. Adrenalina subia queimando minhas veias e artérias. A sensação era... Perfeita. Minha visão melhorou certamente minhas pupilas estavam do dilatadas do tamanho de bolas de golf. Rob retrucou com uma pequena risada:

- Não é tão divertido quanto parece, cara. E não, não caso, mas o Casey pode até ser.

Casey foi rápido ao soltar a mão esquerda e mostrar o dedo do meio para o líder. Se eu fosse me casar, e eu queria, certamente seria com a Mellody e não com Casey, por causa desse pensamento, dei risada junto de Rob, mas Casey logo nos seguiu rindo. Mas o momento de descontração passou, pois Rob levantou a mão, em contagem regressiva: cinco... Com a outra mão ele tirou o que me pareceu um cabo de espada do bolso. Estranhei, era só o punho, não possuía a lâmina. Quatro. Ele se se encostou à porta ao seu lado. Três, dois... Um. Como quem gira uma chave, surgiu um fogo estranho, estranho mesmo, nunca havia visto nada daquele tipo. As chamas saiam da arma do garoto, como serpenteando até a porta, queimou as frestas... Quase como se o fogo possuísse vida própria. O metal que colava a porta ao avião se tornou pó. Em um piscar de olhos a porta foi sugada pra fora do avião. No exato momento em que não havia mais dedos levantas.

Rob tratou de se colar a parede, agarrando-se a qualquer lugar e guardando a arma. O que vi em seguida me deu vontade de rir, se não fosse o leve pânico em que eu estava. Casey se jogou pra fora do avião todo animado e gritando:

- WUUUUUUHUUUL!!

O garoto da camisa rosa foi seguido por uma Elsie receosa e cuidadosa. Ela afastou a porta com cuidado e pareceu olhar para o céu, talvez pedisse para que tudo ficasse bem. Um passo para trás, mas um Dex brincalhão e cretino a empurrou para fora do avião. A ultima coisa que ouvi foi:

- DEX, SEU CRETIIiiino... – O garoto do chapéu deu risada e virado para nós, deu um tchau, caindo de costas.

- Vejo vocês lá embaixo! – Gritou antes de despencar. Olhei para Rob, que apertou o pára-quedas e fez um belezinha com a mão.

- Sua vez. Eu vou por último.

Sorri abertamente por nervosismo e entusiasmo. Dei dois tapas do braço dele e gritei animado, o que era muito estranho para mim:

- Te vejo lá em baixo. – Me virei para a porta e corri loucamente para então pular. Admito que era meio apavorante, então se eu não fosse logo, eu ia amarelar. Assim que sai do avião, meu rosto, como todo meu corpo, foi chicoteado pelo vento. Mas eu, como toda criança feliz que faz algo pela primeira vez, resolvi brincar. Rodopiei algumas vezes matando aquela vontade e então fiquei de barriga pra baixo e abri as pernas e os braços, estabilizando o corpo. O único pensamento que passava pela minha cabeça era... "Ahhhhhhhhhhhhh!!".

É neveeee!

Casey balançava os braços, Dex fazia piruetas, assim como eu e estava sem seu chapéu. Elsie tinha os cabelos soltos, que formavam uma espécie de nuvem negra. Acho que ela parecia em pânico. Casey foi o primeiro a abrir os pára-quedas, e então Elsie, Dex e Rob, e então eu. Desaceleramos bruscamente.

- Ali!! Naquela colina!! – Dex gritou.

O chão era uma grande planície cheia de neve. Senti meus olhos brilharem, era a primeira vez que eu via tanta neve. Ao que calculei ser norte e leste, vi uma vasta e densa floresta de praticamente só pinheiros. Ao sul um lago congelado e mais florestas. No oeste a grande colina para qual Dex apontava. Acho que se podia dizer que era uma montanha. Escondia o que havia atrás dela. Casey guiou o pára-quedas até lá e pousou na neve. Elsie, Dex, eu e Rob chegamos lá. Tirei o pára-quedas da mochila e o joguei na neve, o pessoal me seguia, com exceção de Dex, que dobrava e o colocava na mochila.

- Apple! Precisamos das informações completas sobre a missão! - Elsie gritou falando comigo. Era preciso gritar para vencer o barulho do vento.

- Isso mesmo! Mas primeiro precisamos de um abrigo! Do contrário vamos morrer de frio! – Rob fez o mesmo: gritou

- Aqui! Achei uma caverna! Rápido! – Dex apontou para uma abertura em uma rocha, distante só a alguns metros. Corremos para lá.

Suspirei aliviado quando a temperatura elevou um pouco. A caverna era espaçosa, me lembrou uma sala de estar. Tirando o fato de ter algumas, não muitas goteiras, era muito melhor do que ficar a mercê da neve e do frio intenso. Procurei o melhor lugar para sentar, e assim o fiz. Cruzei as pernas e depois de esfregar os braços para fazer o frio ir embora. Peguei a mochila e tirei duas tocas que cobriam as orelhas, vesti a preta e joguei a azul-marinho pra Elsie. Sorrindo disse:

- Não te quero ver espirrando. E sobre a missão – Limpei a garganta, estralei os dedos e olhei pra tatuagem da Sombra Caminhante enquanto falava. – De manha, quando estava indo treinar fui abordado por Andrew, meu cunhado, ele disse que havia recebido uma mensagem de Íris do Thanatos. O deus da morte falou que certa arma esta pra ser criada no submundo, e que os deuses estão em uma espécie de “guerra fria” – Fiz aspas com os dedos – Poseidon e seu reino estão quase se tornando independente do confronto, nada confirmado.

Tomei fôlego e encarei cada um dos presentes. Eu realmente odiava falar pra mais de uma pessoa. Lambi os beiços e voltei a falar:

- Andrew disse que fui escolhido pelos deuses do Mundo Inferior para coletar certo item. Uma presa do monstro que seria a própria personificação animal da Aurora. – Cocei o queixo – Falou também que eu não seria como se eu tivesse tomado partido na guerra, só cumprisse meu dever de meio sangue. Sr. D. está do lado de Zeus e explicou que o monstro segue a Aurora Boreal, possui o nome de Boreas e ele é um Elemental primário do gelo. Supostamente devo eliminá-lo por ser uma ameaça ao mundo e que pelo que entendi, o único modo de matá-lo é destruindo seu crânio.

Respirei fundo depois da explicação e novamente cocei o queixo. Pensando bem, eu não sabia que lado falava a verdade, e isso era um saco.

Vamos atrás do monstro!!

Enquanto eu falava, vi Dex coçar o queixo e olhar para Rob. Ambos pareceram trocar informações rapidamente. Dex apontou pra Elsie, que estava vermelha pela toca e parecia feliz, a meu ver. Cocei o queixo e mudei a posição das pernas.

- Ahm, Elsie, o que foi que a górgona falou pra ti mesmo, antes de Rob a fazer de churrasco?

- Algo do tipo "Jóias e dinheiro não os salvarão da grande guerra que virá.”

Foi o suficiente para que o garoto de casaco camuflado cinza viesse para o meio do circulo. Ele tirou o casaco e deixou à mostra a camisa negra que usava. Do bolso do casaco ele tirou uma bengala preta. Aquilo não parecia certo, a bengala era maior que o casaco, mas mesmo assim veio de dentro do bolso interno. Virei à cabeça para o lado, observando o que ele fazia. Os outros não pareciam surpresos, por isso tratei de não demonstrar o que sentia.

- Rob, se me permite, eu conheço algo sobre a criatura. Gostaria de compartilhar com vocês meu plano para sua captura.

A boca de Rob estava cheia pela barrinha de será que ele comia. Correu os olhos pelos presentes e fez que “sim” com a mão. Casey veio para perto de mim e murmurou:

- Mesmo sendo deserdados dos nossos pais, ainda temos algumas características deles. Rob, por exemplo, ainda é super-forte, por ser filho de Hércules. E Dex, como está vendo, ainda retém os traços de um filho de Atena.

Concordei com a cabeça, demonstrando que havia capitado. Elsie, agora encostada em uma pedra grande e de braços cruzados, prestava atenção em Dex, que por sua vez andava de um lado para o outro gesticulando enquanto explicava o tal plano. Rob ainda não havia parado de comer. Casey sentou, me pareceu que o garoto de rosa não ligava muito para o frio ao fazer bolinhas de neve.

- Bem, basicamente Bóreas é a personificação do vento norte. Além disso, é ele quem deixa a aurora boreal por onde ele passa, enquanto administra os seus ventos. A cauda dele deixa a aurora por onde ele passa, mas ele é uma criatura bem lenta. Eu pensei no seguinte: Ficarei aqui nessa caverna controlando a missão com vocês. Vou "linkar" vocês com minha mente, de modo que possam se comunicar com a mente, à distância. Vou dar instruções a vocês e acompanhar daqui, também atacando à distância. Quando vocês quatro encontrarem a aurora, se dividam em duas duplas e cada um seguirá um lado da aurora. Em algum tempo alcançarão Bóreas. Quando o fizerem, me avisem, e eu tentarei tele portar todos para lá. Rob deixa as barrinhas aqui, vou precisar de muita energia. Tenho algumas comigo também.

- Belo plano, como sempre, Dex. Às vezes, só às vezes, acho que você deveria ser o líder. – Rob deu risada da reação de Dex, que balançou a cabeça negativamente sorrindo. Estralei os dedos e me pus de pé. Coloquei o capuz na cabeça, de modo que meu rosto ficasse escuro. Eu me sentia mais seguro assim. Rob deixou a mochila e se levantou. Dex balançou a mão e a cartola reapareceu, um protótipo de sorriso surgiu nos meus lábios enquanto ele o recolocava na cabeça. Elsie veio até nós e me deu tapinhas nas costas. Rolei os olhos e deixei que ela me puxasse (junto de Casey) pela mão. Pelo canto dos olhos vi Dex sentando-se no meio da caverna e fechando os olhos.

"Estão todos conectados agora. Explicarei para Apple, que é novo nisso, os detalhes. Vocês não dividirão emoções, memórias ou informações do cérebro. Os outros apenas ouvirão o que você quiser que ouçam. Do mesmo modo podem escolher quem escuta o que falam. Vão lá e boa sorte."

Olhei para frente e respirei fundo. Aquilo ia ser meio complicado ou talvez não.

“Espero que estejam agasalhados, começou a nevar pesado aqui fora." – Rob disse pelo elo. O garoto já estava lá fora. Assim que todos estávamos fora o filho deserdado de Hércules, rolou uma pedra para a entrada da caverna. Limpou as mãos e rumou para o norte. Segui-o com as mãos nos bolsos da calça, não pelo frio e sim pelo costume de querer estar sempre invisível. Olhei pra Casey e murmurei:

- Vamos lá então! – E sorri levemente. Olhei para Elsie e depois para as costas de Rob.

“Acho que devemos pensar em como ficarão divididas as duplas... Como já lutei ao lado do Casey, me sinto um pouco a vontade com ele. Mas a meu ver, será fácil me adaptar com todos vocês na hora da luta.” – Disse pela espécie de link.

Fico nervoso agora?

Enquanto caminhávamos, Casey brincava de jogar bolas de neve nas costas de Rob, que andava mais a frente. Elsie estava usando gorro, não consegui evitar sorrir com aquilo. Casey e Rob pareciam ignorar o frio, o que era meio irritante, já que eu e a morena sentíamos frio. Achei que eu estava meio louco ao ver fagulhas crepitando na boca de Rob quando ele respirava. Só agora notei que as bolas de neve derretiam ao tocar na pele de Rob. Sorri admirado.

“Quando encontrarmos o rastro da criatura, eu vou com você, enquanto Elsie e Casey vão pelo outro lado. Eu e Casey somos os melhores do grupo para dar dano direto e, como não sabemos direito como funcionam seus poderes, será melhor se balancearmos. Elsie é ótima para dar suporte, então Cas ficará bem.”

Concordei com a cabeça rapidamente e segui os olhos dele para o céu a procura do monstro. Ou algo assim. A nevasca pesada estava nos castigando, isso até chegarmos perto da floresta dos pinheiros. Aquela que vimos ao cair do avião. Eu estava começando a ficar brabo com a neve. Por quê? Bem por que estávamos atolados até os joelhos nela. Rob parecia só derreter a neve ao caminhar.

"Se acha só por que é esquentadinho.”

“Eu ouvi isso”

“Garotos, agora não! Não podemos chamar muita atenção, então seria melhor se os dois evitassem brigar. Deixem a briga para a hora certa.”

“Exatamente. Sinto que estão se aproximando de algo. Pode ser o monstro, mas eu não tenho certeza. Tomem cuidado. Há uma abertura nas árvores à direita que dá em um atalho para fora da floresta.”

Realmente havia um atalho. Olhei para os lados procurando Dex, mas lembrei de que ele não estava ali. Dei um tapa na minha própria testa e segui para a trilha. Eu conseguia escutar barulhos de rocha e gelos e quebrando abaixo de nós. Casey olhava pra baixo tentando entender o que era. Pelos cantos dos olhos vi Elsie apertar com força o cabo de sua espada, parecia preparada para lutar a qualquer sinal.
Finalmente avistamos a aurora boreal. Espalhada dando voltas e voltas no céu. Era a coisa mais linda que já havia visto. A direita ela serpenteava em direção a uma cadeia rochosas, escondia-se atrás das montanhas de pedra cobertas pela neve. A outra ponta passava pelo norte, em cima de um lago congelado. O chão coberto de gelo parecia grosso o suficiente para que duas pessoas magras o atravessassem. A luz hipnotizante dançava, nos convidando.

"Como o Apple é novato, ele escolhe por aonde vai."

Rolei os olhos. Os três sorriam me olhando. Rob brincava com um galho de arvore, cutucando Elsie que parecia se irritar. Cocei a cabeça e apontei para as rochas.

“Rob é que vai comigo, certo? Então vamos para as montanhas...”

Estendi a mão para Casey e dei tapinhas no ombro dele, sorri confiante. Virei-me para Elsie e dei um beijo rápido no topo da testa dela. Cocei o queixo sentindo meu rosto esquentar e disse pelo elo:

“Pago um Milk-shake pra cada um depois que terminamos isso.” Era meu jeito de demonstrar confiança.

Corre Nego Rob!!

Despedimos-nos. Casey me abraçou e fez o mesmo com Rob, Elsie acenou com um sorrisinho.

"Boa sorte a todos. Vou tentar deixar todo mundo atualizado.”

“Boa sorte, galera.”

Rob e eu caminhávamos em silencio na direção da cadeia montanhosa. O rastro luminoso no céu dava voltas atrás da montanha. Pinheiros altos, repletos de folhas verde-escuro decoravam a encosta a nossa frente. Existia uma espécie de trilha que a rodeava, tal como se pessoas já tivessem feito esse caminho. O caminho era um misto de barro e neve.

Rob pareceu receoso sobre aquele caminho. Enquanto caminhávamos havia cerca de vinte minutos tivemos a surpresa de um deslizamento de terra da lateral da montanha. Estávamos entre dois paredões de pedras. Meu coração estava disparado e meus olhos levemente arregalados. Três grandes pedregulhos deslizavam montanha abaixo com velocidade. Rob desviou do primeiro que ia em direção a ele. Deu um soco no segundo que era ligeiramente menor, e conseguiu desviá-lo. O ultimo pedregulho, que era tão grande quanto o primeiro, vinha em minha direção. Olhei para os lados a procura de algo que pudesse fazer e sorri levemente quando encontrei. Respirei fundo e rolei por cima do ombro e saltei para mais longe¹, por fim desviei da pedra que se espatifou na árvore que havia, mas atrás de mim. Respirei meio aliviado e olhei para onde Rob estava com os olhos fixos. Um vulto se moveu rapidamente no topo da montanha². Praguejei em grego antigo mentalmente (fora do link) e olhei para Rob. Havíamos descoberto o responsável pela queda das rochas.

"Dex, há uma criatura aqui. Vasculhe as redondezas e veja se há alguém por perto."

"Eu já ia avisar, Rob. Você tem companhia. Casey e Elsie também. Vou avisá-los e ajudar vocês no combate... Aí vêm eles."

Era verdade, pois escutei (creio que Rob também) o barulho de gelo se quebrando. O mesmo barulho que vinha da floresta àquela hora. Embaixo de Rob surgiu uma mão feita de gelo e pedra, e o agarrou com força. Mas Rob revidou, pisando na mão com força, quebrando-a e retirou da calça o cabo da espada e logo as chamas deram lugar a sua espada. Puxei a manga da camisa para trás e imaginei a Sombra Caminhante saindo do meu braço em todo seu esplendor de um metro de altura e seus trinta centímetros de ferro estígio. Rob decepou a cabeça da criatura de mão esmagada (que já estava com o tronco fora da terra).

- Só pode ser brincadeira... – Murmurei ao ver que estávamos rodeados por oito criaturas que brotavam do chão, nove com a de Rob. Levantei os olhos rapidamente, contei seis descendo de um lado e quatro do outro.

Eu sou idiota, foi só desviar os olhos por segundos que senti meus pés presos. Escutei um barulho de pedra rachando, provavelmente um dos monstros. Olhei por cima do ombro. Eu estava certo, era um daqueles monstros. A criatura brandiu o braço em forma de espada. Eu precisava me soltar. Olhei para os dois seres que me seguravam. Tirei do dedo o meu anel com as fazes da lua entalhada que rapidamente se expandiu em uma espada de um metro e dez centímetros feita de prata. A brandi na tentativa de cortar a cabeça dos monstros que me prendiam pelos pés e tento rodar nos calcanhares, a fim de observar todo o lugar. Rob estava cercado por quatro deles. Um deles se aproximava da minha lateral. Os outros ainda desciam as montanhas. Tento chutar os que me prendiam para longe e para não ter risco de e tento usar o um dos tentáculos da Sombra Caminhante para pegar o monstro que vinha na minha direção e tentar jogá-lo nos que estavam em volta de Rob ou em uma das árvores da floresta. Esperando que assim ele se quebrasse. Caso de certo, digo mentalmente:

"Rob se abaixa ou sai dai!"