Caverna - Local Público.

Ignorei o comentário de Kyle sobre a minha mãe. Não preciso ressaltar que minha amada progenitora é a deusa não só da colheita, mas também da natureza, do solo, da força bruta do trabalho braçal e de tantas outras coisas, tais como a vida após a morte e lagartos. Meu pequeno Ky se gaba de muitas coisas, mesmo não podendo se gabar delas. Enfim, revirei os olhos e apoiei meu corpo colocando os braços para trás. Morde meus lábios e desviei os olhos para uma fonte de luz de luar por onde voavam vagalumes azulados. A noite estava linda e eu podia sentir minha querida Deméter através dessa fonte espiritual que emana desse lugar. Fechei os olhos por um instante, sentindo as vibrações da água cada vez que as gotas rolavam das estalactites e pingavam no lago da nascente.

Kyle canta algo ruim e eu abra um dos olhos de relance, o olhando pelo canto do olho. Ele estava até que boitinho desafinado e tal - Quer que eu me vista? - perguntei distraído bagunçando a cabeleira dele. Eu já fiquei pelado com outros campistas mesmo, mas acho que com Kyle deve ter um efeito diferenciado. Não que eu ligue, mesmo eu perdendo a comunicação imediata com as energias da terra, eu não me importo de vestir minhas roupas.

As vezes Kyle era retardado, mas dessa vez ele foi além dos limites naturais de anormalidade. Como é que um ser, no estado atual em que se encontra, verte um frasco de sabonete líquido sem pensar duas vezes? Arregalei os olhos o encarando por segundos que pareciam dias. Agarrei sua gola e o arrastei até mim - Você é louco??? - perguntei o balançando para obter respostas. Uma nuvem passou nos céus tampando o luar, fazendo a caverna ficar inteiramente escura. Perdi a visão de Kyle e, mesmo que minhas mãos o tocassem, eu não via sua imagem - Se algo acontecer com você como é que fica o presentinho?! - falei alto demais para despertar os morcegos do local. A nuvem passou e eu pude novamente ver o rosto imbecil de Kye banhado pelo luar.

Contei até 10 para não dar um soco na cara de Kyle. Era eu quem devia estar tomando conta desse irresponsável, mas se ele confia em cobras, nada posso fazer a respeito. Dei de ombros e colhi um pouco da água cristalina. Passei a mesma pelo meu pescoço, deixando que o líquido fresco refrescasse meu minha nuca. Algumas gotas rolaram pelo meu peito, escorrendo pelo restante do meu corpo. Fechei os olhos, sentindo o líquido úmido e a boa sensação. Acomodei minhas roupas entre as pernas, para não deixar meu garotinho desconfortável com a minha falta de pudor. Eu não disse mais nada, apenas assoviei uma canção de ninar boba que meu pai entoava quando eu era menor - ♩♫♭♪ - Não gosto quando ele chama o milagre da vida de Alien, mas isso são outos 500, que não quero discutir agora.

"Ficar comigo esses dias" era tudo o que eu queria, mas me pareceu meio forçado da parte dele. Era como se alguém estivesse desistido de cuidar e vigiar dele e, ele me pedisse esse favor. Mordi os lábios pensativo enquanto via as ondinhas se formarem no lago cristalino. Movi minhas pernas na água e respirei profundamente sondando minhas opções. Kyle estava chato esses dias e tudo o que eu faço não basta para fazê-lo feliz. Até mesmo minhas habilidades são obsoletas e triviais para ele. Mexi em meus cabelos, fazendo o lugar mais perfumado com um cheiro forte de rosas brancas. Era tão intenso que meu próprio odor se misturava ao banho de perfume. Criei uma rosa branca do tamanho da minha mão, levando aos meus lábios para lhe dar um beijo em suas pétalas - Seria uma honra passar um tempo contigo - falei por fim e lhe estendi a flor. Essa rosa seria mais um dos meus presentes rejeitados por ele, mas eu não ligava....

Diminui o cheiro de rosa, deixando o cheiro úmido da caverna predominar. Novamente a caverna ficou um breu e dessa vez durou bastante tempo. O cheiro de carne seca meio que tampou minhas narinas e me deu uma sensação ruim. Fiz uma expressão negativa e - Você sabe que não sou chegado em carne... - comentei passando a mão no meu peito. Não que eu não gostasse, eu só prefiro não comer.

O céu voltou a clarear e eu pude ver o rosto travesso do meu pequenino. Fiquei triste por ele ter que se afastar, mas eu sabia que era o melhor pra ele sumir por um tempo. Fechei meus olhos e dedilhei pelo chão da caverna, até que minha mão pousasse em suas coxas. Fiz um carinho nela e deitei minha cabeça pelos meus ombros até que meus olhos o fitassem - Quer ficar com meu pai? - perguntei tentando não parecer direto demais. Eu já havia contado pro meu pai que eu namorava um garoto e, ele não viu problema algum, já que na mitologia os deuses pegavam meninos bonitos e é exatamente este o meu caso: Eu um deus grego, pegando um menino bonito, no caso o Kyle - De alguma forma onde eu morava é protegido contra monstros... nunca fui incomodado lá.... - segui falando. Tirei a mão de sua coxa, pegando Kyle pela nuca e o puxando até mim. O aconcheguei em meu peito, sentindo sua respiração de pertinho. A fazenda Triantaphylos é muito tranquila, cercada por plantações e por uma floresta majestosa. Eu acordava todo dia por passarinhos. Creio que seria um lugar ideal para meu menino ficar enquanto estiver com "aliens".

Kyle ficou tão desesperado com o que eu disse que acabou vomitando. E olha, não gostei do que achei nele.. Não tinha nada de comida de verdade. Revirei os olhos e agarrei meu menininho, o colocando em meu colo nu. Afaguei seus cabelos e limpei sua boca com a água que banhava meus pés. Beijei sua testinha e para aliviar o cheiro, fiz com que aquela essência de baunilha invadisse o ambiente. No lugar do vomito, forcei um canteiro de florzinhas coloridas só para mascarar o que havia ali. Enfiei a mão em seu bolso e tirei uma fruta doce para ele comer - Tó, come isso pra tirar o gosto ruim da boca - era um pêssego bem suculento. ivo de ta

Meu príncipe encantado estava pirando com a ideia de ficar com meu pai. Não sei o motivo de tanto nervosismo. Zeek, meu pai, é praticamente a minha cara só que maior em musculosidade. Até tinha medo de Kyle se apaixonar por ele, mas enfim, isso é outro assunto - Olha Kye... - comecei dado um beijo em sua testa e o aninhando em meus braços - Meu pai é a pessoa mais boa desse mundo. Não existe ninguém igual a ele, e o fato dele ter nascido no berço dos deuses, o torna uma pessoa sem preconceitos e ele não se surpreende com qualquer coisa - falei passando a mão em sua barriguinha fofa. Agarrei a mão do meu querido e beijei o dorso da mesma, selando nosso contrato de mestre/servo por mais 10 anos - Você vai adorar o senhor Zeek, pois sei que ele vai te amar do mesmo jeito que eu... - beijei a bochecha do meu pequenino - de forma incondicional - comentei com um sorriso.

O observei com a fruta, analisando seus olhos azuis, sua pele macia, seus cabelos dourados e aquela boquinha vermelhinha que eu tanto gosto de beijar. O posicionei de costas para mim, o sentando entre as minhas coxas, colando meu peito em suas costas. Mexi em seus cabelos, trançando alguns fios - Mas se você não quiser conformo e amor, você pode alugar um trailer... - comentei distraído.

Finalmente ele aceitou. Fiquei tão feliz que senti um pulsar mais forte no meu peito. Meu pai vai mima-lo tanto que tenho medo de que ele não volte pra cá. A mão dele na minha me deixou apreensivo. Coloquei o pescoço em seu ombro, lhe envolvi num abraço e beijei sua orelhinha - Vou estar sempre contigo.... - disse passado a mão pela pulseira que eu lhe dera a muito tempo atrás. Beijei seu pescocinho e seu ombro, voltando a me aconchegar com o garoto em seus braços. Enfim, fora a saudade que ele deixará, minha fazenda lhe fará bem e será um ótimo lugar para ele descansar enquanto não chega a hora. Tenho certeza que meu pai vai cuidar desse meu presentinho, assim como ele cuidou de mim. Acho até que Kyle voltara mais moreno e fortinho depois de uma temporada com papai Zeek - Você vai adorar meu pai... só não se apaixone por aquele grego! - adverti sorridente. Era tão bom passar um tempo sem brigar com o Kye... isso me deixava muito feliz.

Ele me ama!! Ele me ama!! Ele me ama!! Eu estava pulando por dentro e querendo esmaga-lo em meus braços sem permissão, mas eu não podia amassa-lo quando eu podia, já que ele está passando por um estágio complicado da vida. Apenas afaguei seus cabelos e enchi seus cabelos trançados com flores brancas e palhas de aveia. Kyle estava pronto para um concurso da primavera ou daqueles programas de cabeleireiros malucos. Beijei sua bochechinha e sussurrei em seu ouvido - Te amo mais... e se você tiver um dracma, eu aviso agora - comentei. Esse é o único jeito de falar com ele sem que monstros me rastreiem. Foi assim que eu falei com ele sobre Kyle, mas ainda não disse sobre o Joe.... acho que seria assunto demais e ele me acharia uma pessoa desregrada. Olhei corado e sem graça para meu princeso e beijei sua testinha.

Peguei o dracma da mão do garoto, sentindo seu nervosismo, rodando a moeda entre meus dedos, mas devolvi para Kyle - Porque é que você não chama ele? - perguntei estreitando os olhos enquanto abria um sorriso. Seria ótimo se meu pequeno chamasse meu pai ao invés de mim. Acho que assim ele se sentiria menos nervoso do que estava. Beijei sua boquinha carnuda, olhando cuidadosamente seu rostinho de anjo corrompido. Acariciei seu rosto e beijei sua testa - Você já sabe o nome dele mesmo, e ele vai adorar a chamada - afirmei todo alegre. Pra que Skype se eu posso chamar no arco-íris?

Abracei o corpo coberto de roupas de Kye, beijando seu pescocinho o encorajando. Era só meu hominho jogar a moeda na água em que está meus pés e chamar por Zeek Triantaphylos na Grécia. Simples assim. A noite estava ótima e tenho certeza que meu pai já está de pé, ou trabalhando no campo ou lendo alguma coisa na varanda. Ele tem a pele morena igual a minha, talvez um pouco mais escuro, um sorriso de veraneio bem caloroso e bom... outros dotes que deixaram meu noivinho embasbacado. Sorri com o pesamento e - Vai, joga... - encorajei-o.

pra vc lembrar de como era meu pai:

Rolei os olhos e dei de ombros pegando a moeda de sua mão. Ele sempre dá desculpas quado não quer fazer as coisas e encontra outra atividade paralela para dar uma de perdido e... Tenho certeza que ele roubou essa pedra nalgum lugar desse acampamento. O olhei com reprovação, mas meus olhos de julgamento duraram pouco. Baguncei os cabelos enfeitados do meu pequeno e joguei a moeda pra cima. Ela rodopiou no ar, brilhando na meia luz do luar. Agarrei a moeda novamente e a joguei na água num ultimo golpe, fazendo ondinhas na mesma - Se possível, gostaria de ver meu pai.... - falei convicto. Segurei Kye nos meus braços, tentando conter a ansiedade dele.

Um vapor colorido se formou e eu pude ver um vasto campo de trigo que se estendia por quilômetros até uma praia cristalina de pedras. Uma casa grande de tijolinhos, com uma varanda gostosa e ampla. Ao lado dessa casa havia dois pinheiros altos e se Kyle pudesse notar ao fundo, como eu estou fazendo agora, há uma colina colorida, pois há frutas florescendo e no topo, uma muralha feita de arvores da região. Não dava para ver os cavalos de papai, mas dava para ver meu Border Colie caramelo deitado do lado de um homem grande e moreno lendo um livro de romance bobo. Quando ele notou que estava me vendo através de um arco-íris, seu sorriso me deixou quente, como se fosse verão. Ele tinha a barba por fazer e cabelos desgrenhados, seus olhos eram tão castanhos que me fez bem. Seus dentes brancos e rosto de homem, somados com sua camiseta branca meio aberta era um perigo para Kyle - Gios ti ékplixi! Kairó échoume na doúme... - disse sobre o quanto tempo não me via. Geralmente eu mandava carta, por isso a alegria descomunal de me ver. Eu quase pude sentir o cheiro da Grécia e o perfume amadeirado do meu pai - Geia bampá, pós eísai? Afftó eínai Kyle, o fílos mou ... - disse oi correspondendo no sorriso e animação, tocando no peito de Kyle, o apresentado para meu pai - Dóse chairetísmata se glóssa tin pou boroún na katanoísoun - pedi que papai falasse numa língua que meu amor entenda.

Meu pai coçou a cabeça, passou a mão na nuca e fez o mesmo charme que eu fazia quando pensava nalguma coisa. Lentamente ele mordeu os lábios e fechou o livro de romance - Prazer em te conhecer Kevin - disse ele no típico sotaque de quem não fala o idioma que nasceu pra falar - É Kyle Pai - Corrigi. O senhor Zeek balançou a mão como se o nome correto do meu hominho fosse só um detalhe. Revirei os olhos e prestei atenção - Isso! Isso! Kyle. Meu filho falou muito de você, e agora que posso te ver parece-me muito mais bonito que a encomenda!!! Esse é o poder de atração dos Triantaphylos!!! - disse ele numa gargalhada que me deixou envergonhado. Poucas coisas deixam meu rosto avermelhado, uma delas é meu pai comentar coisas que não se devem ser comentadas. Enfiei a cara no ombro de Kye e me escondi - Mas diga-me, a que devo a honra da ligação? - perguntou papai. Eu apenas cutuquei Kyle, pedindo que ele falasse.

Depois que Kye falou o que tinha que falar, meu pai fez igual a mim, só que do jeito dele: coçou a barba, olhando profundamente para meu pequeno, como se seus olhos amadeirados pudessem julgar a real situação como um todo. Ele olhou pra mim e eu apenas ergui a sobrancelha passando a mão no abdômen do meu loirinho. Zeek mordeu os lábios e desabotoou a camisa branca mostrando o peito farto e a tatuagem de "Ceres", o simbolo romano de minha mãe, no peitoral direito. Meu pai ama muito Deméter, mesmo ela não lhe dando muita bola hoje em dia. Parece que ela gosta mais dos pais dos meus irmãos mais novos, tipo o pai do Gio, do que esse garanhão grego todo lindo que chamo de pai. Enfim, deixando meus conflitos aparte - Claro que pode vir passar a temporada, vou adorar te conhecer melhor e ter coisas bonitas por perto me faz bem - comentou papai.

Fiquei corado e balancei a cabeça em negação desacreditando no que ele dissera sobre coisas lindas - Deixando a graça de lado, se você sobreviver à viajem... - Olhei indignado para o arco-íris - PAI!!! - Disse alto e repreensível - Calma Paixão, estou só brincando, vai dar tudo certo na viajem... Kyle vai dormir no teu quarto... ainda tem seu cheirinho nele e talvez ele goste - disse meu pai como se Kyle não estivesse presente. Fiquei mais tranquilo, mas um tanto apreensível, pois Kye verá meus prêmios de Hipismo, Arremesso de peso e medalhas de biologia espalhadas pelo meu quarto, assim como livros e mais livros de plantas e guias de como ser um bom fazendeiro, além de um poster enorme da Miss Grécia. Sim, eu tinha uma queda pela miss Grécia quando era mais novo, mas nada muito além disso - Pai, antes dele ir... tem como comprar uma TV? -perguntei acanhado - Claro sem problema... mas ele só vai poder assistir, depois que me ajudar no campo - comentou meu pai malignamente. Escondi meu rosto nos cabelos de Kyle, escondendo minha vergonha.

Kyle atendeu seu celular e eu fiz um sinal para que meu pai ficasse quetinho. Meu pequenino parecia estar em conflito com a mãe dele e seria bom que ela não escutasse vozes ao fundo, vai que a mãe dele fica irritada e isso só piore as coisas entre eles. Meu pai do outro lado do arco-íris me olhava com olhos de orgulho e eu acanhado tentava não olha-lo muito. O senhor Zeek é o meu herói preferido e apesar das minhas habilidades, ele tem a força necessária para mover céus e terras para me proteger do que perigo que for e, sei que fará o mesmo com meu hominho. Cobri meu corpo com minhas roupas dobradas, pois a unica pessoa que me deixa desconfortável quando estou nu, é meu pai... Fora ele, estou de boa. Kyle continuava falando no celular e eu me mantinha queto admirando os olhos de papai.